Quando eu era criança, adorava brincar de playmobil. Não sei se eu gostava pelo playmobil em si, ou pelo fato de ter todo um ritual pra se começar a brincar. Primeiro era preciso convencer minha irmã ou algum outro desocupado a brincar, depois vinha a escolha dos bonecos, a escolha das outras coisas, peças, casas, e badulaques, depois toda a "fase de montagem", que nas férias podia levar dias, e só então a brincadeira começava. Na maioria das vezes, brincar não era tão legal quanto arquitetar todo aquele mundo, então numa determinada hora, sem culpa nenhuma eu perguntava: "Vamos parar de brincar?". Aí tudo aquilo era desmontado, guardado e feito outra vez quando desse vontade.
Quando eu começo a sair com alguém novo, sempre me imagino numa dessas brincadeiras do playmobil da infância. Conevencer o outro a brincar é o papinho que rola vez ou outra, a escolha das peças são as regras que todo pequeno ou grande relacionamento tem. Depois vem a parte de se conhecer, de se mostrar, que pode ser equiparada a "fase de montagem" da brincadeira, isso também pode levar dias, e por fim se começa a brincadeira.
Um dos grandes problemas em se estar "brincando" com alguém novo, é justamente o fato da pessoa ser nova, e de eu não ter a mínima idéia do que se passa na cabeça dela. O outro grande problema, é que hoje em dia eu também não tenho mais a mínima paciência para ficar dias "arquitetando" o mundo do playmobil. O negócio se inverteu de uma tal forma, que por mim eu já iria tirando os brinquedos do saco e fazendo a brincadeira do jeito que desse, na sorte mesmo.
Sei que tudo isso pode parecer um pouco imediatista e apressado mas o ruim é que, hoje na maioria das vezes, a grande maioria das pessoas, só está interessada no ritual e não em começar à brincar.
É nessas horas que eu gostaria de perceber de longe as intenções de quem se aproxima de mim, e gostaria também que na vida as coisas fossem um pouco mais parecidas com a brincadeira. Gostaria de poder parar de brincar na hora que eu me ligasse de tudo, e começar a guardar as coisas sem culpa nenhuma, sem sequelas, sem machucados, sem espectativas e sem recoradações. Gostaria que depois do furacão as coisas voltassem pro seu devido lugar, nas suas devidas caixas dentro de um lugarzinho seguro e ficassem lá, até que eu quisesse tirar pra começar a brincar novamente. Mas, nem tudo é do jeito que gostariamos que fosse.