Sunday, October 30, 2005

O TEMPO PASSA

A Claudinha era a "mais gostosa do colégio", e olha que ela nem estava na oitava série quando ganhou esse título. A Claudinha já tinha peitos quando a maioria dos meninos nem sabia o que era isso, já se usava de seu jeito de Lolita, pra pegar os professores de surpresa com suas caras e bocas provocantes, quando eles menos esperavam. A Claudinha já era p.h.d., quando todo mundo ainda era amador. Ao chegar na sétima série a Claudinha já botava fogo nos sonhos do colegial inteiro, já tinha beijado os "top ten mais populares" e já tinha adquirido uma posição de responsabilidade dentre todos os alunos do XII de Outubro.
Além disso, Claudinha era uma "coisa", era linda, meiga, simpática, atrevida, engraçada e principalmente sincera, qualidade muito valorizada pelos adolescentes daquela época. Claudinha circulava bem entre os inteligentes, entre os fanáticos por Educação Física, entre o pessoal que "tinha uma banda", entre as caminhoneiras, entre as feias, entre os esquisitos, entre os populares, enfim, Claudinha era unanimidade entre todo mundo que frequentava a escola. A menina tinha um brilho no olhar, que se não te fizesse se apaixonar, te fazia acreditar que ela ia mudar o mundo.
Claudinha também tinha uma vida digna de inveja, sofria na escola com a separação dos pais, com o padrasto pobre, com o pai que não pagava o colégio, e "sofrimento com causa" para os adolescentes, também era algo bastante invejável. Como se não bastasse, Claudinha ainda vivia acontecimentos. Onde ela estava sempre rolava uma história, como quando foi pega fumando no cemitério perto da escola, ou como quando sabotou a Tia do cachorro quente por aumentar os preços ou mesmo quando conseguiu fundos, pra trocar a prótese da professora de Ciências.
Sem contar que a Claudinha ainda ditava a moda. Se ela aparecesse com o "adidas" dobrado até joelho na quinta, na sexta isso já era de praxe. Se andasse pisando no contra-forte do London Fog na festa de sábado, na segunda, quem não pisasse era brega.
Em todos os anos que eu tive o prazer de estudar na mesma classe que ela, eu era um menino feliz, só por sentir o perfume do seu cabelo molhado de manhã, ou por receber um chiclete do seu troco, ou mesmo por beber suco no mesmo canudo, quando ela me oferecia.
O tempo passou, e eu matei a minha vontade de ficar com a Claudinha numa festa de reencontro dos alunos da escola, quando eu já estava na faculdade. Lembro que ela correspondeu a tudo que eu tinha imaginado quando moleque, e ainda me fez sonhar por mais um tempo. Como as coisas não acontecem todas bonitinhas, nós voltamos a nos separar, dessa vez por muito mais tempo, e hoje em dia, quando muito, ainda nos encontramos nas eleições.
A Claudinha pode estar gorda, com dois filhos pendurados no colo, toda desarrumada, descabelada e com aquela cara de domingo de chuva, mas por incrível que pareça, ela ainda não perdeu o brilho nos olhos que fazia a escola se deitar aos seus pés, e muito menos o ar de garota que vai mudar o mundo, mesmo não sendo mais nenhuma garota. Tem certas coisas que nunca mudam...

18 comments:

Anonymous said...

nossa, parece que vc reencontrou o amor da sua adolecencia, nao?!

mc said...

"Somethings change and somethings just stay the same". Ouvi essa música do Damien Rice vindo pro trabalho hoje de manhã. Tem verdade maior?

Gastón said...

Jubs, não tem nenhum filho da Claudinha com a sua cara não?

Cláudia said...

Xu,
ser Claudinha não é para qualquer uma não, nêgo!
Ser Claudinha é algo indissolúvel, inseparável.
É por isso que no mundo há montes de Cláudia, mas nem todas elas são Claudinha!

Zagaia said...

Anonymous, pena vc não se identificar... mas parece que eu revi mesmo meu amor da adolescencia.

Mc, não tem mesmo verdade maior, além disso Damien Rice é uma ótima referência.

Leozito, pode ter certeza que não tem... Para de me difamar na vizinhança!

Ceiça ou Clau, as Cláudias sempre tiveram uma grande influencia sobre mim... as CLaudinhas então nem se fala!

bjos

Anonymous said...

Só as Claudias tem influencias sobre vc ???
Poxa...

Ana Téjo said...

Me conta uma coisa, dear: além de desarrumada, descabelada e com dois filhos no colo, a Claudinha fez alguma coisa com vida dela? Porque, se não fez, é um desperdício.

JU...

Anonymous said...

* vou me identificar apenas com um * nas nos meus posts, ok?! *

Zagaia said...

Anonymous,

como eu disse, as Cláudias TIVERAM (o verbo está no passado) influência sobre mim sim... muitas delas. Mas como agora vc só vai se identificar com * eu tb posso só te responder com *, não posso?

Ju,

o pior é que eu acho que não fez... e o pior é que eu perdi a intimidade pra perguntar... Sabe como as coisas são né?

Bjo

Anonymous said...

*o segundo post nao foi meu.. parece que vc tem mais de uma fa anonima... ahhahahaha *

Zagaia said...

Anônimo, vc só pode estar querendo me irritar**!

Anonymous said...

* Nossa, juro que nao era minha intençao, me desculpe!! e que como nao te ocnheço, entrei no seu blog pelo link do blog de uma amiga, nao vi o ponto de colocar meu nome.. apenas gostaria de dizer que adorei seu blog, os textos, o bom humor, as lembranças.. enfim: parabens! *

mc said...

Só posso dizer que Claudia é mesmo um nome de peso! rsrs

Zagaia said...

Anonimo*... irritar é força de expressão!! Não irrita não, só atiça demais a curiosidade! Mas que era melhor com identificação, era! Brigado por gostar e visitar!

Mc deve ser de Maria Cláudia... hummm entendi tudo!!

mc said...

You've got mail (no gmail).

Isa said...

Sempre tem aquela que pessoa que marca, né?! Pode não ter sido nada, além de um encontro normal da vida, do destino, mas que fica pra sempre...

belas lembranças as suas...

bjos.

Roberto Iza Valdés said...
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Gastón said...

E aí, vamos escrever um texto novo? Toda vez que eu venho aqui tá no mesmo...

Anda, anda!!