Sunday, December 25, 2005

PARAR DE BRINCAR

Quando eu era criança, adorava brincar de playmobil. Não sei se eu gostava pelo playmobil em si, ou pelo fato de ter todo um ritual pra se começar a brincar. Primeiro era preciso convencer minha irmã ou algum outro desocupado a brincar, depois vinha a escolha dos bonecos, a escolha das outras coisas, peças, casas, e badulaques, depois toda a "fase de montagem", que nas férias podia levar dias, e só então a brincadeira começava. Na maioria das vezes, brincar não era tão legal quanto arquitetar todo aquele mundo, então numa determinada hora, sem culpa nenhuma eu perguntava: "Vamos parar de brincar?". Aí tudo aquilo era desmontado, guardado e feito outra vez quando desse vontade.
Quando eu começo a sair com alguém novo, sempre me imagino numa dessas brincadeiras do playmobil da infância. Conevencer o outro a brincar é o papinho que rola vez ou outra, a escolha das peças são as regras que todo pequeno ou grande relacionamento tem. Depois vem a parte de se conhecer, de se mostrar, que pode ser equiparada a "fase de montagem" da brincadeira, isso também pode levar dias, e por fim se começa a brincadeira.
Um dos grandes problemas em se estar "brincando" com alguém novo, é justamente o fato da pessoa ser nova, e de eu não ter a mínima idéia do que se passa na cabeça dela. O outro grande problema, é que hoje em dia eu também não tenho mais a mínima paciência para ficar dias "arquitetando" o mundo do playmobil. O negócio se inverteu de uma tal forma, que por mim eu já iria tirando os brinquedos do saco e fazendo a brincadeira do jeito que desse, na sorte mesmo.
Sei que tudo isso pode parecer um pouco imediatista e apressado mas o ruim é que, hoje na maioria das vezes, a grande maioria das pessoas, só está interessada no ritual e não em começar à brincar.
É nessas horas que eu gostaria de perceber de longe as intenções de quem se aproxima de mim, e gostaria também que na vida as coisas fossem um pouco mais parecidas com a brincadeira. Gostaria de poder parar de brincar na hora que eu me ligasse de tudo, e começar a guardar as coisas sem culpa nenhuma, sem sequelas, sem machucados, sem espectativas e sem recoradações. Gostaria que depois do furacão as coisas voltassem pro seu devido lugar, nas suas devidas caixas dentro de um lugarzinho seguro e ficassem lá, até que eu quisesse tirar pra começar a brincar novamente. Mas, nem tudo é do jeito que gostariamos que fosse.

6 comments:

Renata Amaral said...

É...
Algumas vezes o furacão é importante para renovação. Só não precisa ser constante quanto as nossas desilusões com as "brincadeiras", mal arquitetadas e mal brincadas pelos outros (ou por nós mesmos, algumas vezes).

Ah, o endereço do meu blog foi alterado (vários reclamaram de não conseguir guardar o endereço...) então está www.amaralrenata.blogspot.com, ok?

Tudo de bom para você moço bonito e com uma capacidade de compreenssão monstra.

bjos

mc said...

Que graça a vida teria se a gente tivesse um radar que identificasse as pessoas? Não seria tudo muito óbvio?

Mas eu bem que gostaria que as coisas se ajeitassem mais rápido depois do furacão...

Adorei a analogia!

Lo said...

quando tu lê um livro/um texto vai assinalando frases? eu vou. pra ler depois, anos depois - o que de certa forma é fazer uma leitura de mim, de "um eu" numa determinada época. Tô contando isso porque eu assinalaria frases no teu texto se isso fosse possível ("a grande maioria das pessoas só está interessada no ritual e não em começar à brincar", por exemplo). Muito boa a analogia. Parabéns. (?!?! parabéns?! pelo texto, pelo texto..)

Ana Téjo said...

E eu gostaria que as pessoas viessem com bula. É chato, é comprido, as letras são miúdas, mas se tiver saco de ler, está tudo lá.
...E que você escrevesse mais nesse bloguinho.
Beijos, querido.
JU...

Gastón said...

Vamos parar de trabalhar e voltar a escrever? Já vi esse post aqui umas 15 vezes... vai Jubs, agiliza!

Saudade Nego.

renata penna said...

Adorei a analogia. Totalmente inesperada. E reconhecível também. É uma pena que com o tempo a gente perca a delicadeza de fazer de cada passo uma grande brincadeira. Uma pena, mesmo.