Sunday, July 30, 2006

COISA DE MÃE

- Filho?
- Hum?
- O que é uma dor que começa aqui assim, depois vem pra cá, e dá uma adormecida aqui assim e depois vem pra cá que nem um pontada fuuuuunda?
- Não sei mãe.
- Como não sabe?!
- Não sabendo ué! Eu não sou médico mãe.
- Eu sei que você não é médico! Mas não saber que dor é essa? Você tá é de má vontade, não quer me ajudar.
*
- Oi filho! Você veio almoçar?
- Ahh eu estava aqui perto, se tiver comida eu almoço sim!
- Tem claro que tem! Na minha casa não falta comida! Por que você não ligou avisando que vinha?
- Eu não sabia, estava aqui perto...
- Da próxima vez avisa.
- Tá... O que tem pra comer?
- Bom eu e seu pai estamos de regime, não tem muita coisa...
- Tá bom mas o que tem?
- Lasanha.
- Lasanha?! Mas você não disse que estava de regime?
- Mas eu só comi um pedaço, seu pai que comeu o resto... Ahh a Maria tb comeu! Acabou!! Ahhh filho... e agora? Quer bolo de cenoura que eu fiz pra sobremesa?

Tuesday, July 11, 2006

DE REPENTE 30

Ai você entra inesperado, meio que no meio de mundanças, meio transitório, meio crítico e um pouco esbaforido. Entra bombando e inegavelmente, e por fim enfia os dois pés lá dentro, profetizando novos tempos. Você se desanima, sente o impulso de mentir por mais um tempo, de adiar por pelo menos mais um ano a idéia de colocar o 3 na frente da sua idade e de deconversar. Você definitivamante entrou na casa dos trinta.
Como diz o Luís Fernando Veríssimo, a sua vontade é de voltar, dizer que não aproveitou muito bem a casa dos vinte, que lá a festa ainda está rolando, que lá o pessoal dorme mais tarde, que quer outra chance, finge que esqueceu alguma coisa por lá, mas não tem jeito. Não há saída da casa dos trinta anos. Pensando bem há sim, mas é para a casa dos quarenta e dessa você nem quer passar perto.
Na casa dos trinta as roupas parecem mais formais, os bonés foram abatidos à tiros e uma certa barriguinha é permitida, afinal você já tem idade e não é mais garoto pra ficar andando sem camisa por aí. Da casa dos trinta também não é possível mais ver a vitrine de algumas lojas que eram muito visíveis da janela da sala da casa dos vinte. Talvez se você espremer os olhos e fizer aquela força a mais na visão, olhando de cantinho pelo respiro do banheiro, de pra enchergar alguma coisa, mais você nem tenta, na casa dos trinta a sua preguiça é maior.
Maior também é a sua necessidade de conforto na casa dos 30, as plotronas são maiores, as viagens mais interessantes, os banheiros são limpos e os colchões ortopédicos. Na casa dos 30 todo mundo sente dores na coluna. A garagem também é mais ampla, assim como o armário de remédios em cima da pia do banheiro. Por mais que ainda não se tenha filhos a casa dos 30 os espera, por isso as "minivans" e as "offroads" são sempre bem-vindas.
Olhando bem entre as pessoas da casa dos trinta você percebe todo tipo de gente, conhecidos, amigos, chatos, mancos, zarolhos... Óbvio que tem também aqueles que parecem não ter saído da casa dos vinte, e esses você decide nem se aproximar. Então, num cantinho, perto da saída da varanda que dá pro fumódromo você repara num pessoalzinho. Uma galera bacana, cheia de conhecidos, gente boa, gente que parece estar sobrevivendo bem lá dentro. Você vai se achegando e pra eles você ainda reflete o mesmo olhar que refletia na casa dos vinte. Pronto, é alí que você decide aproveitar a festa dos próximos dez anos, bebendo um pouco, saindo pra fumar um pouco, se apaixoando um pouco, galinhando um pouco... Mas tudo um pouco e bem moderado, porque afinal, como eu já disse, agora você já tem idade.