Friday, July 29, 2005

O PREÇO QUE AS COISAS TEM

Fazer nossa própria contabilidade é um exercício de paciência, carinho, atenção e luta contra a ansiedade. Como desde os primórdios a matemática nunca foi meu forte, conto com a ajuda de uma planilha, que todos os meses desde que senti a necessidade na carne, anoto manualmente todos os meus créditos e débitos. São continhas de mais e de menos que deixam qualquer um com pena de olhar o raciocínio, pois como também não sou bom de excel, anoto cada cálculo do lado da folha da mesma planilha pra não me perder. Pra um diretor de arte isso é um verdadeiro inferno.
Desde que comecei nessa onda de anotação, vejo que me tornei um ser menos consumista, menos impulsivo, mais ponderado e mais chato também. Mas, o que não dava mais era entrar na tela de extrato e ver aquele número em vermelho no lugar do saldo, ainda por cima com um sinal de menos na frente. Confesso que anotar e contabilizar é uma angústia, mas com certeza uma angústia menor que a do negativo.
Então, lá ia eu todo despreocupado e feliz, gastando e anotando meus débitos, horas mais assiduamente, horas menos, mas no fim corria tudo bem. Até chegar a contabilidade do mês passado. Ao tirar meu extrato, vi nitidamente (até porque rolou o lance do sinal de menos e da cor vermelha) que os números não batiam com o que eu esperava. Mas o que teria acontecido? Eu teria me tornado um idiota e não sabia mais fazer continha de chegar? Clonaram meu cartão do banco e agora eu ia ficar com a conta presa pra sempre?
Sentei desesperado na frente da tela, minhas mãos estavam geladas, minha nuca arrepiada, eu tremia e minha boca ficou seca na hora (é louco como os sintomas são os mesmos de quando você está apaixonado). Comecei a ver cada item do meu "atestado de pobreza", cada um dos sinaizinhos de menos que tinham na frente dos números, eu era uma raposa em busca da caça, nada iria passar pelos meus olhos. Ao longo da malfadada leitura, eu fui me ligando que tinham alguns pequenos débitos (coisa de 8 ou 12 reais) que eu tinha esquecido de marcar, umas miudezas pequenas que eu fui deixando passar, porque afinal de contas eu estava marcando, mas estava despreocupado, fazendo a linha marcador low profile. No final da checagem, ao somar todas as escapulidas do meu próprio sistema, eu pude perceber que os números batiam com perfeição! Perfeição matemática.
A minha revolta foi tanta que eu tive vontade de tirar satisfações comigo mesmo, me encher a cara de tapas, usar técnicas de auto-penitência com requintes de crueldade, eu constatei que quando o assunto é dinheiro, eu não posso confiar nem em mim. Eu mesmo me burlei! Esqueci as regras que eu mesmo tinha estipulado!
Quando nos propomos a fazer alguma coisa, temos que fazer direito. E eu não estava fazendo direito, estava era arranjando um jeito de falar que eu era controlado não sendo. Essa historinha de low profile, é puro papo de ex-viciado em compras! De agora em diante não passa nada sem que a caneta acusar, até pelo menos eu aprender a usar melhor o excel. O que fica é um sentimento pavoroso se certificar que um cinema que você paga 10 reais, não sai por menos de 17 (contando os 5 reais de estacionamento e os 2 reais de um chicletinho). Esses pormenores acabaram com a minha vida despreocupada, agora sei que serei um homem preocupado pra sempre! Talvez esse rombinho na minha conta sirva pra eu aprender de uma vez por todas essa lição contábil. Só sei que, na boa, eu poderia ter pedido um descontinho no preço da aula.

Tuesday, July 26, 2005

PEQUENAS ESCOLHAS, GRANDES CONSEQÜÊNCIAS

Sou da opinião que todo dia quando acordamos temos várias decisões a tomar, já começamos o dia fazendo as mais diferentes escolhas, a começar pela roupa que vamos trabalhar, pelo shampoo que vamos usar, se vamos à academia ou não, se vamos trabalhar ou não (tem gente que tem esse poder), se estamos de mal humor ou não e assim vai. Tudo na vida é resultado das escolhas que fazemos, mas como saber o efeito que isso tem a longo ou a curto prazo se tomamos esse tipo de decisões o tempo inteiro? Não passamos um dia sequer sem ter optado por fazer, vestir, calar ou dizer alguma coisa, mesmo que seja não fazer nada ou simplesmete deixar a maré levar (em algum momento você optou por não fazer nada).
Fico pensando que, já que fazemos escolhas o tempo todo, deveriamos ter aprendido a sempre optar pela alternativa certa, ou pelo menos ter uma vaga idéia do que com certeza não devemos escolher. Porque cá entre nós, é péssimo sentir que fizemos a escolha errada e pior que isso é saber que a máxima da física também vale nesse caso: "Para cada ação existe uma reação".
O mais irônico é que na nossa, as vezes por uma pequena opcão idiota que fazemos, acabamos por transformar tudo em uma grande catástrofe, que barbariza nossa vida durante semanas, no caso de algumas pessoas arrasa com o resto da vida inteira, ou não. Conheço casos de pessoas que mudaram completamente suas vidas por terem escolhido um outro shopping para almoçar. Comecei a contabilizar as pequenas escolhas marcantes da minha vida e quando fui ver, esses pequenos atos eram simplesmente o começo das grandes mudanças radicais pelas quais passei. Lógico que muitas dessas escolhas foram acertadas, me troxeram grandes presentes, grandes oportunidades, grandes histórias, mas por algumas outras eu percebi que se tivesse tido mais tempo, ou mais maturidade, ou menos bebida, ou mais visão, ou menos empolgação, ou menos ansiedade eu talvez tivesse escolhido outro caminho, talvez tivesse me esforçado mais, amado mais, demonstrado mais, ou menos. E o que teria sido de mim se eu tivesse escolhido outro caminho? Esse tipo de pensamento pode levar um ser humano normal à loucura, a quantidade infinita de coisas que podemos imaginar e as que não podemos, podem ficar nos fazendo delirar durante meses. As conseqüências de cada ato podem ser ser maravilhosas ou desastrosas e é isso, que torna viver tão arriscado e gostoso para quem vive.
Só sei que, como nunca saberemos o que vai ser se escolhermos aquele ou este caminho e todas as rezoluções no fim dependem única e exclusivamente da nossa vontade, rezo todos os dias para que esteja fazendo as melhores escolhas pra minha vida, afinal não é nada fácil lidar com o livre arbítrio.

Monday, July 25, 2005

REENCONTRO CULTURAL

Uma coisa que nós paulistanos não estamos acostumados é receber pessoas de outras cidades para fazer turismo por aqui, sempre ficamos meio acanhados pra indicar lugares, coisas pra fazer mas nunca titubeamos quando nos perguntam onde comprar. Em janeiro tive o prazer de conhecer Salvador por mãos sábias, fui recebido junto com outros dois amigos por um baiano nato, que a princípio nem conhecíamos direito, que nos mostrou o que é ser um bom cicerone e anfitrião. Ao final dos dias que passamos na cidade esse soteropolitano tinha se tornado um novo irmão pra gente, não conseguiamos imaginar como tinhamos vivido sem suas piadas, sem seus novos verbetes e sem o "nescau engrossado" que ele nos ensinou a fazer. Mês passado ele nos escreveu dizendo que vinha ficar duas semanas de férias por aqui, por isso semana passada começamos a nos organizar para mostrar a esse amigo as belezas de São Paulo e tudo de bom que uma cidade grande pode oferecer.
Começamos organizando um "esquentinha" na sexta, mas eu errei o dia de sua chegada e a festa aconteceu sem o grande homenagiado. Quando ele finalmente ele chegou, no domingo, ligou no meu celular várias vezes com um telefone daqui, que eu não conhecia, por isso eu não atendi. No fim do dia o cara finalmente conseguiu me achar, me xingou muito e depois todos fomos nos reencontrar. Nós atrasamos, demos várias voltas pra chegar no lugar, mas conseguimos enfim achar, depois daqueles abraços adolescentes e dos gritos de alegria que causaram vergonha em quem não nos conhececia, o levamos à uma sorveteria, bem na hora da chuva. Em resumo, eu me revelei um verdadeiro fiasco na arte de receber bem. Primeiro demos uma festa pra ele em um dia que ele ainda não estava aqui, depois não atendi o telefone e por último ainda o levei em um lugar completamente por fora das condições climáticas atuais.
Apesar de ainda não ter aprendido a receber, simplesmente o fato de estar com amigos de outros lugares já é senscional. Só o encontro cultural de idéias, piadas e gírias já valem um ano de boas pesquisas no assunto, seria capaz de listar um milhão de coisas que aprendi em um só papo, é como se você lesse um novo capítulo do "livro de variedades" e percebesse que é só "dar ósadia" que o papo passa do mais culto ao mais tosco em questão de segundos e você se enche de novo conteúdo. Esses reencontros acabam sempre sendo tão bons, que dá até uma certa raiva das companhias aéreas que os tornam menos frequentes.
O que eu fiquei pensando é que devia existir um tipo de tarifa especial para matar saudades de amigos e parentes distantes. Seria ótimo poder ir à cidades que você já cansou de visitar só ficar com as pessoas que você conheceu lá, por um precinho bem camarada e sem perder dias em um ônibus. Bom, enquanto isso não acontece, até porque acho que está bem longe, vamos tendo que matar a saudade desses amigos quando o tempo e o dinheiro colaboram... Mas analisando melhor, pode ser isso que torna esses reencontros tão especiais.

Saturday, July 23, 2005

HISTÓRIAS ÉBRIAS

Quem bebe todo dia tem mais é que procurar tratamento e não ficar enchendo os outros em lugares públicos, mas vez ou outra acontece da gente passar um pouco dos limites e se tornar "o que dá trabalho". Tenho alguns amigos que dão trabalho sempre que bebem, que precisam que alguém dirija, que precisam que se fique atento quando eles "perdem o foco" e tem também os que só precisam de atenção. Logicamente tem aqueles que esquecem e que ligam no dia seguinte perguntando o que aconteceu, quem beijou quem, como foram embora. Pra esses você faz o papel de repórter, conta tudo e o que você não lembra, ahhh o que você não lembra você inventa... porque afinal você também tinha bebido. Só sei que desses relatos é que saem as melhores histórias de um grupo de amigos, são as histórias ébrias.
Toda boa história ébria tem que ter uma alguém que perde a noção, alguém que se mostra de verdade, alguém que dá v.p.p., alguém que fala alto demais, alguém que fala o que não deve, alguém que dá uma gafe, alguém que se perde, alguém que não sai do banheiro, alguém que deprime, alguém que abraça todo mundo, alguém que dorme, alguém que quer voltar dirigindo, alguém que arranja encrenca, alguém que diz que está bem, alguém que vomita e alguém que leva um tombo. Como quase nunca temos membros suficientes para todos esses papeis de uma boa história, muitas vezes uma mesma pessoa é obrigada a cumprir mais que um, por exemplo: alguém pode falar alto demais, o que não devia e dar uma gafe na mesma frase, pronto, aí já foram cumpridos 3 quesitos... E olha que dá pra juntar muito mais coisas, tem gente que completa 5 quesitos em um simples ato.
Todo personagem de história ébria queria na verdade não fazer parte dela, queria só assistir, rir, pegar só a parte boa e não ter "dia seguinte", mas como pra muitos de nós se jogar faz parte, cada um acaba tendo um capítulo à acrescentar. E todo capítulo é imporatante, pois só juntando todos vamos ter um panorama menos embreagado da verdade!
Devo confessar que muitas vezes eu também me torno um personagem de história ébria, como ontem por exemplo, a parte do tombo ficou por minha conta, na escada, de bunda... afinal, alguém tinha que protagonizar esse pedaço da história, né?

Friday, July 22, 2005

MILAGRES DA FÍSICA

Nunca fui bom em nenhuma matéria de exatas, muito menos nas de biológicas, em compensação sempre me dei bem com humanas. Na escola eu lembro que era o tipo de aluno que tirava 10 em História e 2 em física, 8 em português e 4 em matemática. Meu boletim nunca era muito constante. Por ter feito uma faculadade de artes, realmente desaprendi muita coisa depois de todo esse tempo. Não lembro mais o que era logarítimo, nem a fórmula da velocidade média, também esqueci as frases da tabela periódica (com excessão da primeira: "Bela Magrela Casou-se Com Senhor Barata"), esqueci completamente como se acha o "delta", mas da fórmula de báscara eu tenho uam vaga idéia. Acho que com o passar do tempo a gente só guarda o que é útil, no meu caso é divisão por dois algarismos e a ordem dos planetas do sistema solar, que eu não sei por que ainda guardo mas também é com uma frase: "Minha Vó Tem Muitas Jóias mas Só Usa No Pescoço".
Mas acho que deveria ter guardado algumas leis ou fórmulas da física, qualquer uma que tivesse a ver com massa, peso e espaço. Aí hoje eu conseguiria explicar pra todo mundo como alguém consegue fazer o milagre de se fazer uma saque de 9 milhões de reias e sair com essa grana do banco? Por acaso algum desses fulanos que fez esses saques malucos chamou os amigos pra ajudar a carregar a bufunfa?! Como é que alguém carrega 90 mil notas de 100 reais sem ninguém perguntar nada? Pegaram um carrinho de mão pra colocar tudo e saíram do banco?
Outra coisa que eu também não entendo, e que deve ser outro milagre da física nessa bandalheira que está acontecendo em Brasília, é como de uma só conta, tanta gente consegue sacar quantias homéricas, sem levantar suspeitas? O dinheiro ali naquela conta não tinha fim? É um tal de saque de milhões pra lá, outro saque de milhões pra lá. E esse Marcos Valério, com esse nome de novela mexicana, destribuindo dinheiro a torto e a direita? De onde saiu esse cara, com essas agências de publicidade milhonárias que rendem os tubos e nunca ninguém ouviu falar? Era ele que deveria estar apresentando "O Aprendiz" e não o Justus.
Gostei mesmo foi da Heloísa Helena, lendo ontem um poema e dizendo que essas pessoas podem fazer o que quiser na vida, mas terão que conviver com sigo próprios para sempre. A intenção é boa Heloísa, mas você acha mesmo que um cara desse tá preocupado em deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo?
Sei que é chato bater na tecla desse assunto que se tornou o novo "Big Brother" de quem relmente se importa com o país onde mora e não vou conseguir dar a minha opinião imparcial nessa questão. Apesar de não ter votado nunca no PT, de não ter acreditado nem um pouco no que disseram pra se eleger, como brasileiro sinto que é muito triste ver o rumo que as coisas tomaram.

Wednesday, July 20, 2005

NAMORO OU AMIZADE?

Qualquer paulistano que se preze, no inverno, não vai à baladas, nem a eventos que começam tarde, nem vai tomar um chop num bar aberto e muito menos ficar conversando no relento. No inverno o paulistano frequenta um lugar que eu não ví ser tão frequantado assim em nenhuma cidade do mundo, um lugar que é sempre cheio de conhecidos, sempre legal, sempre quentinho e sempre acolhedor. Esse lugar é nada mais, nada menos que a "Casa dos Outros". Não tem nada mais gostoso, quando nos dias que você tem aquela obrigação de sair, um amigo te liga e diz que vai fazer um "esquentinha" em casa. Na boa, além de "esquentinha" no inverno ser o que todo mundo quer, são daí que saem as melhores conversas, as melhores aspresentacões e as melhores demonstrações de intimidade que alguém pode ter com os amigos.
Claro que eu ando frequentando alguns desses esquentas nessas semanas de frio, e me surpreendi em um que fui sábado na casa de um grande amigo, peloe squenta em sí e pelas conversas que rolaram. Sabe aquele lugar que está perfeito? Que está quase todo mundo que você gosta de papear? E que ainda chegam algumas boas novas aquisições? Então, era lá mesmo que eu estava no sábado.
O papo da noite passeou por diversos assuntos e por diversos mundos, festas, trabalho, gente chata, gente legal, gente de um modo geral, moda, religião, música boa, mulheres, homens, sexo e tinha que acabar caindo no assunto padrão de ultimamente entre solteiros que eu conheço: relacionamentos. Num dado momento, onde a maioria já estava sem sapatos, com as pernas se esquentando em baixo de cobertores, uns deitados, uns encostados, uns deitados nos outros, uns encostados nos outros, uns bebendo pra esquentar e todos decididos a não sair dali, um amigo daqueles que é sempre o que arremata conversa, disse: "Nós não podemos sair de casa com a cabeça de que vamos conhecer alguém pra namorar. Namoro é igual amizade, acontece e tem que se deixar acontecer. Não saímos de casa com a cabeça de hoje-vou-conhecer-um-grande-amigo, então porque fazemos isso com namoros?".
Essa frase só não mexeu mais comigo, porque eu também acredito que não podemos saír com essa cabeça, mas esse papo de deixar acontecer como uma amizade, eu sinceramente nunca tinha pensado. Nós nunca acordamos e pensamos em conhecer melhores-amigos, eles simplesmente acontecem. Quando você olha pro lado ele tá lá, sem você perceber, sem pedir licença e sem dar a menor bola pro que você "acha da relação". Com namoros também tinhamos que pensar da mesma maneira. Uma boa reacão seja ela uma amizade ou um namoro, tem que simplesmente acontecer e tem que acontecer sem a gente esperar, bobamente e sem programação e tem que depender também de um pouquinho de sorte. Óbvio que não é ruim depender da sorte, pense em quantos amigos você não conheceu de jeitos estranhos, em situações estapafúrdias, apresentados por alguém que hoje já não faz mais parte do meio e que você só conheceu devido à sorte. Com namoros também pode ser assim.
Pensar em namoro como apenas mais um tipo dos tantos tipos de relacionamento que você tem só tira o peso da história. E pra variar tirar o peso é sempre bom, a gente deixa de encarar as coisas com pesar, se torna mais bonito, atraente e uma presença mais agradável. Vejo nisso um bom modo de enxergar as coisas, um modo de se manter aberto para a vida e para o que ela lhe oferece o tempo todo, tanto pra conhecer um grande amigo, quanto pra namorar.

Tuesday, July 19, 2005

É TUDO UMA LOUCURA

Por trabalhar com publicidade tenho acesso diário a alguns jornais que gelamente não compraríamos em São Paulo. Quando cheguei no trabalho hoje, naquela meia hora que damos para tomar um café e ficar por dentro das notícias do dia, me espantei com a machete do jornal O Dia: "Depois de sexo com aluno de 14 anos, professorinha alega insanidade".
A reportagem trata do caso da americana Debra LaFave, professora do ensino médio que aos 24 anos manteve relações sexuais com seu aluno "menor de idade" nas dependências da escola e na casa dela. A moça será julgada por sedução de menor e agressão sexual. A denúncia foi feita pela mãe do menino que o obrigou a contar o que estava acontecendo. A matéria é tão lasciva e conta detalhes tão supérfulos que me causu até estranheza.
Uma coisa eu quero deixar clara desde já, é que pedofilia, estupro e agressão sexual são crimes graves que devem ser punidos com requintes de crueldade, mas no caso em questão me coloquei a pensar se é relamente um crime. Obviamente que pra sociedade americana, que finge zelar pela moral e pelos bons costumes, pela mãe do garoto e por todas as carolas de plantão o caso é um acinte, mas será que é tanto?
Olhando as fotos da matéria pude perceber que a professora é linda, linda mesmo, puta corpo, puta rosto, peitão, a protótipa americana boazuda, na boa, tudo que um cara de 14 anos queria para perder sua virgindade, então parei pra pensar: Será que ele não queria ter relações sexuais com a profesora? Ele foi na casa dela, ele mandava o primo guiar o carro enquanto fervia com a fulana no banco de trás e só contou porque a mãe o pressionou. Fiz pouco caso da história presumindo que o garoto tinha mesmo era se divertido horrores e a pobre é que ia ter que amargar uma pena de 15 anos.
Mas, outra fagulha foi acesa na minha cabeça: E se fosse o contrário? E se fosse um professor de 24 com uma menina de 14? Mesmo a menina querendo também, esperaríamos um pouco mais de discernimento desse homem? Vivemos em uma sociedade tão machista que achamos que os meninos podem perder a virgindade antes, que meninos já tem o poder de decisão do que querem e meninas não? Por que somos tão atrasados em uns momentos e tão sem preconceitos nos outros?
Nessas horas é bom usar aquela teoria do "cada um é que sabe de sí", mas me peguei tão encabrunhado com isso não sabendo nem o que achar do que eu mesmo acho, se sou careta, pra frente ou o que. Só sei que no meu caso, eu adoraria que aos 14 anos tivesse aparecido uma mulher dessas pra acabar com o "probleminha" que eu carregava, sim porque a virgindade nessa idade para mim era um problema. Resumindo, com 14 anos eu já tinha certaza absoluta que não queria era ser mais virgem. E cá entre nós, muito melhor pensar em transar com 14 anos, do que pensar em entrar na escola com armas para matar os colegas! Pra usar as palavras da professora, que agora eu não sei mais se é culpada ou inocente: "Tudo isso é uma loucura".

Sunday, July 17, 2005

AS FASES DA VIDA

Faz muito tempo, acho que ainda era adolescente, eu assisti à uma peça muito ruim. Direção ruim, iluminação ruim, atores ruins, figurinos ruins, mas texto bom. Se tratava de “O tempo e os Conways”, de JB Priestley, um clássico! Eu já nem lembrava mais que tinha visto algum dia essa montagem, quando semana passada o texto, litetralmente, caiu nas minhas mãos, enquanto eu olhava uma banquinha de usados da Benedito Calixto. Peguei, olhei, revirei, guardei, tornei olhar, revirar e guardar... pronto comprei. Na hora devo ter pensado que já eu não lembrava mesmo da história, poderia ser uma boa reler.
Passei a tarde lendo e me perguntando porque eu tinha gasto quinze reais naquela porcaria? Aqueles atores rins na verdade tinham era tirado o foco da minha atenção da cahtice que era o texto. Enfim, continuei a leitura, porque na boa, acreditava que uma hora as coisas iam mudar. E então, nas duas últimas páginas manchadas eu encontrei a resposta.
"O Tempo e os Conways" narra a história de uma menina que na sua festa de aniversário, tem uma visão do futuro e do que está destinado aos demais membros da família. Só sei que na hora da catarse final, na cena onde a mocinha vê que não terá jeito e tudo que ela temia vai acontecer, uma personagem solta a seguinte fala: "Tudo que somos é um composto de fases, e quando chegarmos ao final dessa vida, todas essas fases, seremos nós".
Pronto, estava aí o motivo pelo qual o livro caiu na minha mão! Comecei a pensar no composto de fases que eu já sou e no que ainda está por vir, na salada que vai ser quando tudo isso acabar e alguém resolver somar todas pra ver o que dá, na metamorfose que é minha vida e em todas as pessoas que já passaram por ela. Quando abri o Orkut então foi o fim, cada uma daquelas fotos representava um momento meu, uma parte da minha vida, alguma daquelas fases, ou mais longa ou mais curta, ou mais feliz ou mais triste, ou mais curiosa ou recolhida... As pessoas que eu conheci, estavam lá listadas como que pra assegurar as fases que eu passei, pra assegurar que eu sempre iria me lembrar o quão imporatantes elas foram e no quão difícil é imaginar cada uma dessas fases sem elas. Não consigo lembrar partes da minha vida sem lembrar de pessoas muito especiais que hoje simplesmente sumiram no mundo. As fases mudam e as pessoas também. Logicamente que tem aquelas que fazem parte de várias fases, mas essas, se não são família ou algum carma, são os amigos da vida inteira.
Sendo um pouco mais profundo, mas só um pouco, porque profundidade demais cansa: para cada uma dessas pessoas, que cumpriu seu papel na minha vida e se foi, tem uma pessoa que eu também cumpri o meu papel e me fui. Então se cada uma delas, lembrar dessa fase que compartilhamos pelo menos uma vez por ano... ahhh, minha imortalidade tá garantida.

Friday, July 15, 2005

QUEM NASCEU PARA A CIDADE

São Paulo é uma cidade que abriga pessoas que só poderiam viver aqui. Conheço muita gente, que como eu, é tão estapafúrdia que não combina com outro lugar, elas simplesmente nasceram pra morar aqui mesmo não tendo nascido em São Paulo, o que não é o meu caso que sou paulistano nato. Mas esse é o caso da Roseana, que nasceu em Pinda e graças a essa cidade maluca veio cair na minha vida.
A estilo de louca-vida-louca da Roseana, pode se resumir em uma história: "A História do Cachorro", como ficou conhecida entre nossos amigos. Roseana vivia intensamente em Pinda, sempre teve uma vida atribulada pra uma cidade do interior e sempre foi conhecida por tudo que aprontou por lá. Por obra do destino, do acaso ou do ráio que o parta, a Roseana foi cair na mão do Sérgio, e como a coitada sofreu. O Sérgio era do tipo que falava que ia e não ia, que dizia sim quando era não e que aprontava com a inocencia de namoro da Rô. Um dia a Roseana cansou, arrumou suas malas e veio pra São Paulo. Esqueceu o Sérgio na primeira esquina e bola pra frente, fez jornalismo na G.V. e começou a trabalhar em um jornal legal. Anos depois, já uma mulher emancipada, multifacetada e evoluída, num domingo chato de visita à sua família, Roseana decidiu saír e visitar o Sérgio. Qual não foi sua satisfação ao ver que Sérgio continuava igual, mesmo trabalho, mesmos amigos, mesmos problemas, só que um pouco mais velho e sem aquela cara de novos ares.
O que Roseana não esperava é que estava havendo uma reunião de família na casa do Sérgio, ele muito amável, nem lembrando aquele Sérgio de antes, a convidou pra entrar, sentar, tomar café... e ela foi aceitando. Começou então a contar suas boas histórias de mulher bem vivida, emancipada, analisada e moradora da Capital. Em um momento que ficou sozinha na sala, Roseana notou que um cachorrinho, que devia ser de algum parente que estava ali, fez um pequeno cocô num cantinho do carpete. Quando todos voltaram com o café passado na hora, as bolachas amantegadas da Vó do Sérgio e uns docinhos fantástiscos, começaram a reclamar do cheiro do cocô. Roseana, que além de emancipada quis se mostrar observadora, contou aonde estava o dejeto pra desespero da Mãe de Sérgio. Toda a família então começou a brigar, uns porque tinham levado cahorro, uns porque não queriam limpar, outros porque achavam que o cachorro estava senil, uma verdadeira baderna.
Roseana então teve uma idéia. Foi até o banheiro, pegou um papel e se abaixou pra pegar o tão mal falado cocô. Afinal, uma mulher emancipada e a frente de seu tempo não tem problemas com um reles cocozinho. Mas, nem tudo sempre dá certo pra quem quer sair por cima, ao mexer no cocô, subiu um cheiro característico que fez Roseana vomitar ali mesmo, no carpete da Mãe do Sérigio, na frente de toda a família do Sérgio.
O final dessa história eu nunca consegui saber, pois quando a ouvi pela primeira vez, estava em um quilo sujinho daqueles que a gente vai no fim do mês, e a comida quase saiu pelo meu nariz! Infelizmente não convivo mais diariamente com essa baixinha que alegrava o meu dia com as suas trapalhadas, mas na última vez que nos encontramos ela tinha dado "forma" no cabelo e feito chapinha. Às vezes paro pra pensar em Roseana ainda morando em Pinda, aquilo tudo era pequeno demais pra alguém como ela, pessoas com alma grande e grandes histórias tem que viver em lugares grandes também, se não, não comporta. Ou como diria a Roseana: "Não orna!".

Thursday, July 14, 2005

SURPRESA É BOM E EU GOSTO

Me surpreendi essa semana com uma amiga que disse que não gostava de surpresas. Como assim?! Eu adoro uma boa surpresa! É ótimo quando a mãe de um amigo, que você acha que nem lembra da sua existiencia, te liga no seu aniversário, ou quando logo cedo você é acordado com a notícia que a dona da Daslu foi presa por sonegação, quando suas amigas que nunca se viram resolvem ficar trocando figurinhas no blog e descobrem que são xifópagas, quando alguém te convida pra um cinema no meio da semana, quando o cinema vai até a sua casa no meio da semana ou memo quando as 2h da manhã você é atendido no pronto-socorro do São Luís, por um médico amigo seu. Um amigo aliás que você adora e que tem um puta alto-astral.
Analisem a sitiação: você está mal, não tem pra onde correr, são duas da manhã e você não pode acordar ninguém, num ato desesperado você corre sozinho até o hospital mais próximo e ao chegar você se depara com seu amigo-salvador, você toma um baita susto, diz que não queria incomodar mas que está a beira da morte, e ele além de acabar com a dor que não te deixava dormir, além de exterminar o rotavirus que estava te corroendo por dentro ainda conversa com você, te faz rir e também te coloca em um quarto com medicacão na veia, só pra resolver de vez o seu problema. Isso não é uma ótima surpresa? Claro que é! Surpresa boa é gostoso até em hospital! Surpresa boa nunca vem em hora ruim e sempre vai ser uma história a ser contada. Surpresa boa é assunto!
Mas convenhamos que supresas são emoções pra quem tem um certo preparo, ninguém que é cardíaco, metódico ou chato, gosta de supresa. Um cardíaco não gosta por motivos óbvios, a surpresa o deixa mais perto da morte, o metódico porque surpresa atrapalha, descadera, desequibra e mostra quem você é, e as vezes assusta e os chatos não gostam porque são chatos mesmo, e contra chatice não tem remédio.
A surpresa tem que ser deliciada e aproveitada em sua total e plena ignorância, não pode ter nenhum tipo de planejamento ou consulta, deve acontecer ao acaso, se não for pelos dois, pelo menos pra um dos lados, e no final deve sempre ter uma boa risada, uma cara patética ou um rosto ruborizado. Como eu particularmente adoro tudo isso, posso ser excluido de ser cardíaco, metódico ou chato.

Wednesday, July 13, 2005

REPOUSO FORÇADO

Quantas tardes chuvosas não nos perguntamos o que estamos fazendo no escritório e não em casa comendo bis? Quantos dias você não pragueja e diz que a única coisa que você queria era ver a sessão da tarde embaixo das cobertas? Quantos dias você nao amaldiçoa quem inventou o telefone, o e-mail, o msn, o cliente, o orkut só pensando em chegar em casa e tirar uma soneca? Mas então, um belo dia entra uma virose pela sua boca e você é obrigado a passar vinte e quatro horas em casa, olhando pro teto, sem nada preparado pra fazer, tendo um monte de trabalho te esperando no escritório, tendo um monte de filmes pra assistir no cinema, um monte de exposições pra ver em São Paulo, um monte de parques pra correr... E você em casa, e ainda sem ter se preparado pra isso. Em casa, e ainda por cima de surpresa! Se pelo menos você soubesse o que iria acontecer e tivesse ido na 25 comprar uns panos de prato pra ficar pintando, pelo menos tornaria útil e rentável o seu tempo convalescente. Se pelo menos, você tivesse disposição pra arrumar gavetas, fazer limpeza pesada ou mesmo pintar um cômodo da casa, não seria tão ruim. Mas não, você está em casa, inválido e em estado febril.
Aí você pensa: "Vou fazer um monte de comidas gotosas e comer até explodir". Não dá, a virose é daquelas que tem restrição alimentar. Você pensa em fugir, correr, passar trote em alguém, ligar pro Japão, e nada. Nada faz passar o seu tédio. Podia estar passando a maratona da série mais empolgante da sua vida, que no dia do repouso forçado não iria te interessar! E a única coisa que relamente não te sai da cabeça, é onde você estava com a cabeça quando pensou um dia em ficar em casa? E é exatamente nessa hora que você começa a agradecer a Deus por existir telefone, e-mail, msn, orkut... Já imaginou ficar em casa sem isso?

Tuesday, July 12, 2005

UM DIA DE FÚRIA

Numa bela segunda-feira você acorda, levanta da cama e se pergunta por que os pássaros não estão cantarolando como nas outras manhãs? Será que isso é um presságio de como será seu dia? Ao chegar na academia, um infeliz te passa um exercicício que só te faz pensar que você dormiu mal, seu pescoço começa a doer e você já fica com aquela cara de olha-o-torcicolo-aí. Ao chegar no trabalho, metade dos seus e-mails são de problemas insolúveis, dos quais 90% precisam de uma resposta de outro idiota. Uma dessas respostas é da sua diretora, que apesar de ser uma fofa, aquele dia porque um filho tá doente ou dormiu mal a noite, errou a tinta do cabelo, resmungou com a empregada ou mesmo porque as entiadas estão em casa de férias, não está nem um pouco afim de olhar pra sua cara. E então se faz a merda, ela lhe dá uma resposta atravessada e cheia de razões subentendidas, que te tira do sério, você retruca acidamente num tom que sabe que vai irritar, ela sobe o tom de voz, você sobe também e diz que não tem culpa do que está acontecendo na vida dela, aí o bate-boca começa. Pronto você já conseguiu cagar no seu treio da academia e no seu dia de trabalho todo. E não são nem 11h30 da manhã!
Lá pelas tantas você resolve ir almoçar na casa da sua mãe, afinal uma comidinha caseira não pode fazer mal. Ao chegar lá, ela te conta que é dia da faxina, que não fez almoço e a única coisa que tem é uma pizza que sobrou do domingo. Tome pizza velha e bora pro trabalho. Cansado de tomar lambada, você resolve que nada mais te tirará do sério aquele dia, porque além disso a noite você tem uma festinha de despedida e tem que estar bem.
Mas tudo sempre tem uma gota d'agua derradeira e duarante uma reunião no meio da tarde, a qual você foi chamado as pressas e não tinha preparado nada antes, um fulano nada a ver com a sua vida resolve te cobrar um material que ele diz ter pedido há duas semanas. Daí chega a hora do grito: "Duas semanas!? Como assim?! Você pediu por sinal de fumaça? Por código morse ou por aquelas garrafinhas que as pessoas jogam no mar?! Cadê o e-mail onde você me solicitou esse material? Agora a culpa é toda minha? Cadê o e-mail? Mostra...". Todas as pessoas te olham assustadas, o tadinho que não tinha pedido o material, e disse que tinha, está com o olho mais arregalado do mundo. Quando você percebe que está no meio de um piti, sua vontade é de enfiar a cebeça no meio da mesa de reunião ou simular um ataque cardíaco, mas agora já é tarde... Você precisa arrumar uma saída.
Mas o que fazer quando na verdade você gostaria de voar no pescoço de todo mundo? Gostaria de se transformar em um rottwailer e ir só estraçalando seu inimigos (ou mesmo aqueles que não são) pelo caminho, separando seus lindos corpinhos de suas cabecinhas loucas. Porque tem dias que as pessoas prezam te irritar? Te deixar nervoso? Será que existe algum complô e você não sabe? Tem horas que é muito fácil acreditar nas teorias de T.P.M. masculina.
Aí você tem uma idéia brilhante. No fim da tarde, na hora do "rush" do café, você entra na copa, pede licença a todos e joga pra dentro meia dúzia de cápsulas de vitamina C, com um ar desequilibrado. Quando aquela mais-fofoqueira-do-escritório passa do seu lado você diz com ar sereno: "Nossa, eu ando tão instável esses dias, vou parar de tomar essas bolinhas pra emagrecer". Dentro de muito pouco tempo até a recepcionista vai saber que a culpa toda é do seu médico. Mas você sempre pode voltar a "tomar bolinhas" quando acordar em um dia assim e estiver afim de dizer verdades...

Monday, July 11, 2005

O BEM-QUERER

Como já dizia a música: "o bem-querer, é segredo, é sagrado e está sacramentado em meu coração". Nada, na minha opinião, demonstra mais o quanto você é bem quisto do que o dia do seu aniversário. Fazer aniversário é uma explosão de emoções, é receber mensagens incríveis, ligações inesperadas, cartas elaboradas, cartões inebriantes, visitas obrigatórias, e-mails engraçados e milhões de scraps. Sim, porque fazer aniversário no Orkut é uma emoção à parte, são scraps que chegam a cada minuto, pessoas que você acha que nem se lembram dizendo o quanto você faz falta... No dia do aniversário todo mundo resolve te dizer que você é importante de alguma forma, e na boa, tem horas que você não aguenta.
Tive o prazer de fazer aniversário por esses dias e ver o quanto ao longo dessa minha já longa jornada pude colecionar os amigos queridos, os primos importantes, os pais orgulhosos e principalmente os irmãos surpreendentes. E como é bom se surpreender com alguém que está tão próximo, ver como essa pessoa que caminhou ao seu lado, quase que sua vida inteira, pode ser tão interessante, tão diferente e tão espetacular ao mesmo tempo. Como é bom também dar uma festa e ver que todas as 150 pessoas, que realmente fazem algum tipo de diferença na sua vida, estavam lá e estavam se divertindo, rindo, falando alto e bebendo muito.
Sei que tudo isso pode parecer piegas, sem graça e sei lá mais o que... Mas quando a festa chega ao fim, você percebe que o bem-querer é recíproco e será, com certeza, uma das melhores coisas que você vai levar dessa vida, então aí você senta, agradece, toma um gole, espera pelo seu novo ano e sacramenta tudo isso no fundo do seu coração.

Friday, July 08, 2005

O INFERNO ASTRAL E AS COMPRAS

Sabe aqueles dias que a polícia tá correndo atrás de você, a gerente do banco só falta deixar scrap no seu orkut e as contas não param de chegar? Mas mesmo assim você está numa crise tão grande, que se não comprar alguma coisa, tem certeza que não chegará vivo no fim do dia. Pois é, eu também passo por isso!
E além de tudo você começa, no meio do shopping, a fazer contas de subtração, divisão e multiplicação de contas, mesmo tendo feito uma faculdade de artes. Tudo se transforma num grande infeno psicológico. É preciso adquirir algo! Já não importa o que você entrou pra comprar, se você precisava, se ia usar algum dia e sim o quanto ainda te resta pra gastar. Seu objetivo é dar um "golpe finalizador" no seu cartão pra ver se ele para de te incomodar!
Aí então, você encontra o que queria, ou o que pensava que queria: um cd, mas não um cd comum como os 756 que você tem na sua casa, o que você encontra é O SENHOR DOUTOR DE TODOS OS CD'S, aquele que até o momento você nunca soube que existia e agora não consegue saber como viveu até hoje sem ele. Como aquelas músicas que são praticamente a trilha sonora da sua vida, conseguiram ser compostas, mixadas, remixadas, letradas e tal, sem que você estivesse presente? Como você nunca soube que aquilo existia? Então você toma a decisão, ou melhor, sua carteira e sua cabeça de inferno astral tomam a decisão: "Vamos comprar!".
Você segura o cd com as mãos trêmulas, mal consegue andar até o caixa, procura apoio nas gôndolas, entrega o cd para a "mocinha" e esta, com o ar mais comum do mundo, pergunta a forma de pagamento... Ao abrir a carteira, as traças jogam truco na parte onde era pra ter dinheiro, o canhoto do seu talão tem uma cifra que começa com um sinal de menos, seus cartões te olham com cara de "eu-não-pegue-o-do-lado", você finalmente escolhe um e entrega. A "mocinha" pede pra você digitar a senha, sim o cartão que você pegou era de débito, mas na hora que você se dá conta do que está acontecendo a senha simplesmente some da sua mente. A "mocinha" não entende e pede de novo, branco total, você digita qualquer coisa pra não ficar chato, senha errada. A fulana está se transformando em um monstro diante dos seus olhos, você digita outra coisa, senha errada novamente. Chega então a sua última chance, a loja inteira olha pra você, os números da senha parecem estar sendo digitados em câmera lenta, tipo filme do Jonh Woo, ao apertar a última teclinha aparece naquela pequena tela de cristal líquido a frase: senha inválida, cartão cancelado por motivo de segurança.
Sua vergonha é tanta, a cara da ogra que está atrás do balcão é tão feia que você tem medo de olhar, seu cartão inválido te aponta rindo e o cd tão desejado parece mofar na sua mão. Você devolve o cd no balcão, fala qualquer merda pra ogra e sai de novo no corredor do shopping. Mas você sente que alguma coisa mudou em você, passou a ânsia de comprar, passou o nervoso e os deuses do inferno astral parece que se saciaram com o que você passou... Finalmente dá pra respirar tranquilamente, fumar um Marlboro Light, tomar um café e ir embora feliz. Tá vendo? Há males que vem pra bem.

Wednesday, July 06, 2005

CHORAR DE PRAZER

Todos sabemos que as pessoas não choram só porque estão tristes. O ato de chorar sempre fez parte da vida de todos nós de diferentes formas, uma hora choramos de alegria, outra hora por desabafo, outra por emoção e assim vai... Eu por exemplo, dou vexames sérios em cinemas. Tenho amigos que não frequentam as mesmas sessões que eu por sentirem vergonha do meu total envolvimento com o filme triste em questão. Mas ontem, conversando com um amigo em uma mesa de bar, fui apresentado a um tipo de choro que eu jamais tinha ouvido falar e não conhecia nem de perto: o choro de prazer.
Segundo ele não é bem um choro, são algumas teimosas lágrimas que cismam em beirar seus olhos quando ele chega ao ápice com alguém que está apaixonado. Não pude conter a risada na hora em que ouvi isso, tanto que a coca-light quase saiu pelo meu nariz e eu tive que me segurar para o desastre não ser maior.
Depois fiquei pensando se isso acontecesse comigo, no quão pavoroso seria eu estar com alguém e chorar na hora H ou vice-versa. A pessoa tem que ser muito bem estruturada pra deixar a emoção chegar a esse ponto, afinal todo mundo sabe que é bom, mas chorar é no mínimo inusitado. O que iriam achar de mim se isso acontecesse? O que eu acharia se alguém que estivesse comigo se deixasse levar desse jeito?
Voltando pra casa, aquele assunto não saía da minha cabeça e eu comecei a achar que meu amigo tem sorte. Analisando friamente a situação, deixando passar toda a carga engraçada que a história carrega e pensando que chorar muitas vezes faz bem e é tudo que você presisa; chorar de prazer é se deixar levar às últimas conseqüências do êxtase, é viver aquilo intensamente sem se preocupar com o que vão achar, falar ou pensar, é sentir tudo que aquele momento pode te oferecer e confesso que fiquei um pouco com inveja. Inveja boa, mas inveja!
Fiquei pensando também, que muitas vezes por barreiras nossas ou sociais, implantadas ou adquiridas, não nos deixamos levar por completo por aquilo que nos predispomos a fazer, não nos entregamos nem quando a ordem é essa! Como a gente consegue ser tão travado? Como conseguimos por tantas régras até no que não tem nenhuma? De hoje em diante coloquei uma coisa na minha cabeça, mas por favor não levem para o lado sadomasoquista: só vou me deixar apaixonar por quem me fizer chorar de prazer... E é isso que eu chamo de viver intensamente.

Tuesday, July 05, 2005

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA?

O que dizer de um bom e velho Nelson Rodrigues? É fantastico ler aqueles parágrafos onde nenhum dos personagens presta, todos estão em busca do hedonismo sem fronteiras, os ricos sacaneiam os pobres, os pobres se vingam nos filhos, que matam os pais de desgosto, canálhas saem ilesos, velhas se tornam prostitutas, meretrizes mães de familia, todo mundo que parece santo não é e todo mundo que é faz papel de idiota... Igualzinho a nossa vida, dadas as devidas proporções e também sem o final trágico típico de Nelson Rodriges.
Um bom Nelson Rodrigues também tem que ter uma história de amor mal resolvida, vivida por alguém que está bem frustrado, que geralmente é chamado por um sobrenome tipo Saraiva, Saldanha ou Teixeira, e que trabalha em uma repartição pública. Quer dizer o básico da sociedade carioca na década de 30. Se pararmos pra pensar são histórias comuns, de gente comum, com vida comum, mas por serem obras literárias temos acesso a informações que não teríamos se não vivessemos o ocorrido.
Essas pérolas "rodriguianas" permeiam a minha cabeça desde a adolescência e eu nunca soube porque tanta gente gosta de ver aquele monte de gente se ferrando a cada nova história, a cada novo capítulo e a cada caída do pano. Será que gostamos de ver as pessoas se darem mal? Será que saciamos algum tipo de sanguinolencia vendo o fim horroroso que isso tem? Ou será que esse sucesso se dá por conta de sermos bobos e apreciamos qualquer coisa que seja diferente do resto?
Fico pensando que Nelson Rodrigues conseguiu achar uma fórmula tacanha de nos dar um alerta de como somos realmente. Ele viu que nos sentimos satisfeitos ao ver que é bom ser um pouco mal, que quem é bonzinho demais sempre se dana, que família desestruturada acelera o fim trágico, que a vida de todo mundo tem problemas e que mesmo quem só rodeia sai chamuscado. Achou um jeito de nos dizer que pensamos como animais vingativos e ainda estamos presos àqueles rituiais de caça às bruxas e torturas cristãs. Rusumindo, nós gostamos sim de ver que todo mundo se ferrar, pelo menos na ficção, nossa culpa por sermos hedonistas, na maior parte do tempo, se refrestela ao ver que a vida trata todo mundo igual, que nunca se sai limpo de uma história suja e que toda nudez será sempre castigada (pelo menos aos olhos do Nelson).
Não que eu ache certo ou concorde com a falta de parâmetros sociais e morais das personagens rodriguianas, mas acho que esse remédio para essa "culpa" incutida que nos foi dada de herança deve começar, e começar hoje, a ter seus dias contados. Não podemos ser os juízes dos outros, nem na ficção, afinal a culpa só é bem sentida quando é sentida por quem fez, e na boa, quem somos nós pra julgar o que cada um deve ou não fazer e como deve ser o fim de cada um... Como já diziam: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Mas de certa forma, temos que adimitir que ainda é maravilhoso ler que os vilões e todos aqueles que não agiram certo, sob qualquer visão, vão ter sua cota de sofrimento quando chegar o final. Afinal de contas ainda somos um pouco românticos...

Monday, July 04, 2005

MEIGO, SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO

É muito difícil não gostar de algo que a grande maioria das pessoas com as quais você convive gosta, como gente meiga por exemplo. Não suporto a idéia de alguém que seja meigo ou fofo 100% do tempo, alguém que tenha atitudes nobres e louváveis na maior parte dos seus dias ou mesmo alguém que só seja lembrado por ser "um amor". Tem coisa mais sem sentido do que dizer que alguém é "um amor" ou "meigo"? Aquela pessoa não tinha nada mais substancial que pudesse ser dito dela? Não tinha nada melhor para acrescentar? Enfim, pra quem me conhece, é melhor nunca dizer isso de mim, ou eu tomo como ofensa pessoal.
Mas na minha opinião existem dois tipos de meigos: o meigo nato, que é aquele que nasceu assim, não tem culpa nem noção, é aquele que faz porque tem que fazer, porque não sabe outro modo de agir e porque é a sua forma de interagir com o mundo. Não somos obrigados a aceitar esse tipo de meigo, mas temos que respeitar seu jeito de ser e sua maneira de agir, as vezes até muito engraçada.
E existe também o segundo tipo, o meigo de ocasião, e esse é o pior. Pra falar a verdade, de certa forma, a meiguice de ocasião é um tipo de falsidade oportunista que deve ser farejada de longe, um tipo de arma que alguns seres humanos desenvolveram pra continuar rodeados de outros seres humanos, sem se mostrarem por inteiro, é uma defesa moderna para pessoas que por total ausência de opinião emitem um sorrizinho número 13 e uma risadinha ou uma frase feita do tipo fofa.
Por princípio eu desconfio de todos os tipos de atitudes fofas ou meiguices em geral, até conhecer bem o tipo de meigo, mas de uns tempos pra cá tenho me surpreendido com a minha reação em certas ocasiões. Receber uma ligação no meio da noite só pra ouvir que alguém está com saudades, conversar por horas no msn mandando aqueles bichinhos que fazem coisas (não só os que cospem, demosntram raiva ou desconfiança), um abraço numa hora carente, ouvir um "eu gosto de você" no meio de uma discussão inflamada, ouvir que alguém ouviu tal música e lembrou de você, um beijo roubado, uma tremedeira instantânea, uma gagueira errada e um parar de falar começando a rir só porque alguém está te olhando com o olhar mais melado do mundo não dando a mínima pro seu discurso, são coisas que tem literalmente me quebrado as pernas.
Começei então a prestar a atenção num tipo de meiguice que eu nunca tinha parado antes pra listar ou classificar e que só aparece quando estamos envolvidos até o pescoço em um tipo de situação e que em nada podemos controlar: o meigo esporádico.
Quem passou por uma grande perda com certeza estava com um meigo esporádico do lado pra dar um abraço, pra deixar chorar no ombro ou pra falar alguma coisa sem sentido e fazer rir. Quem é duro demais, com certeza também foi algum dia baqueado por algumas dessas atitudes do meigo esporádico, alguma demonstração de amizade mais tacanha ou por um apoio que era há muito aguardado.
Na verdade, acho que a vida nos ensina, que essa meiguice espontânea é passivel pra qualquer demosntração de carinho ou amizade, enfim, pra qualquer demonstração de amor para com o próximo e é justamente isso, a espontaneidade, é faz a diferença entre todos os tipos meigos que estão a nossa volta... Acho que pensar sobre isso nos amolece um pouco pra certas coisas, não sei dizer se isso é bom ou ruim, mas que a surpresa é gostosa, é! E olha que pra uma pessoa como eu parar pra pensar em meiguice, é que o assunto anda mesmo presente no meu dia-a-dia. Mas não é porque todos nós somos meigos em um momento ou outro, que devamos aceitar que se diga isso de alguém, aí já é demias.

Friday, July 01, 2005

POINT OF NO RETURN

Pra quem não sabe, point of no return é o momento onde onde a decolagem não dá mais pra ser aboratada, mesmo que haja qualquer problema, o avião vai decolar. Um amigo piloto me disse uma vez, que tantas chacagens são feitas antes de ser "dada a partida" no avião, que é muito difícil ocorrer algum problema após o point of no return, já na nossa vida não acontece bem assim.
Na realidade que vivemos todos os nossos problemas começam a partir do point of no return, naquela relação indefinida, naquela frase que saiu sem querer e principalmente quando você pede aquele drink que achamos que será o último, e não será!
O problema é que você só sabe que passou da medida no álcool, quando já não há mais retorno (point of no return) e como seus sentidos estão alterados, como a conversa tá boa e como a Marisa Orth tá quase vindo sentar na sua mesa pra participar de tantas risadas, você continua bebendo firme sem ligar pra mais nada.
Num determinado momento você acha que está ficando japones, que todo mundo está reparando que você teve um dia difícil e que está relaxando demais pra uma quinta-feira. Mas pra que ligar para o que os outros acham não é? Afinal tá todo mundo que importa na mesma mesa e indo para o mesmo caminho. Em outro ponto crucial da noite, um amigo derruba todo o seu drink, você pensa: "É um sinal! Parei de beber.". Mas ele insiste em pagar outro, então você pensa: "É um sinal! Vou continuar." aceita e continua.
Ao longo da noite tudo vai ficando cada vez mais engraçado e você começa a receber vários convites para dormir na casa dos outros. Mas porque? Será que todos gostam tanto da sua companhia que querem ficar com você a noite toda? Depois todos se interessam pelo seu carro, com que você veio, quem mora perto de você... Tudo passa a soar estranho e você responde as perguntas não entendendo muito bem, nem ligando para a dormência que começa a se instalar na sua língua.
Até que, horas depois alguém toma a decisão final, pedir a conta. Quando você levanta da cadeira para ir passar o visa electron no caixa, parece que o mundo a sua volta está sendo atacado por ondas eletromagnéticas de torpor físico e mental, e tudo mais começa a fazer sentido. Você bebeu demais.
Você obviamente não lembra a senha do seu cartão, onde deixou seu carro, e a culpa de ter bebido tanto te consome a cada uma das perguntas básicas: "Você consegue ir dirigindo?", "Tem certeza que não quer dormir em casa?" e "Me liga quando chegar?".
Finalmente você consegue com o rádio alto, um chiclete, o vento na cara e a conciência pesada chegar (graças a Deus e a um anjo-da-guarda-baladeiro, que nem você) são e salvo na sua casa. A sua cama gira tanto que você precisa colocar o pé no chão para se sentir apoiado, você se corrói por não ter percebido antes que estava chegando a esse nível, como você pode beber tanto? Como pode passar tão desapercebidamente do point of no return?
Mas no dia seguinte você jura, com a cabeça doendo e com um gosto horrível na boca, que quintas-feiras são dias proibidos para o álcool, e que você nunca mais tomará "mojitos". Mas será que você vai se lembrar disso na próxima quinta-feira? Será que a semana que vem isso fará algum sentido? Ahhh pra que sofrer por antecipação? Na próxima quinta você pensa nisso...