Thursday, April 20, 2006

DEPOIS DAQUELA VÍRGULA

É impressionate a quantidade de acontecimentos que sucedem uma vírgula!
Depois da vírgula ela ligou. Depois da vírgula a gente saiu pra jantar em lugar bacana, e em lugar boqueta também. Depois da vírgula nós fomos ao cinema, assistimos filmes na quarta, no sábado e de terror. Depois da vírgula a gente se falou muito, 3 vezes por dia, logo ao acordar, antes de dormir e enquanto faziamos compras em supermercados diferentes.
Depois da vírgula ela fez aniversário e ganhou presente, entregue discreto com cartão bonitinho. Depois da vírgula falamos de trabalho, trocamos idéias, nos incentivamos. Depois da vírgula rompemos barreiras, conhecemos os amigos, os colegas e uma parte do passado.
Depois da vírgula ela me viu rindo, orgulhoso, carente, pilhado, ansioso, gozando, dormindo, sonhando, abraçado e beijando. Depois da vírgula ela me conheceu, e soube meio que sem mais nem menos o que eu queria por entre tantas vírgulas.
Mas talvez, tantas vírgilas não tenha sido o que ela queria. Talvez entre uma vírgula e outra ela tenha deixado escapar que não queria tantas, mas talvez eu na ansia de colocar a próxima não tenha parado pra prestar atenção. Talvez quando ela tenha visto a montoeira de vírgulas ela tenha se assustado, e talvez tenha desejado trocar tudo por um ponto final. Mas isso, o que se passou na cabeça dela, eu nunca vou saber e nem quero.
O que eu quero, é colocar muito mais vírgulas, seja nesse ou no próximo parágrafo, porque assim, eu posso demonstrar pra minha vida que eu espero muito mais dela,

Thursday, April 06, 2006

COISAS ESTRANHAS

A Didica sempre foi assim. Sempre gostou da coisa mais do que qualquer outra, e nunca fez questão de esconder isso de ninguém. Passou um tempo sozinha, o que quase a levou ao desespero. E foi numa dessas, num casamento onde era madrinha, que a Didica conheceu o Nivaldo.
Quando a noiva falou pra Didica que ela ia entrar com um cara chamado Nivaldo na igreja, que era primo dela, que vinha do interior só para a ocasião, a pobre desesperada já viu sua festa afundando. O que ela poderia esperar de um cara chamado Nivaldo? Provavelmente era um bonachão, um tio querido e solteirão que cheirava a cerveja e jogava truco nas tardes de sábado. O que a Didica, que gostava tanto da coisa, iria fazer com um Nivaldo?
Foi só ver o Nivaldo que a cabeça da Didica já começou a pipocar em um monte de idéias de o que fazer com ele. Se bobear o Nivaldo, de tão lindo, chamou atenção até do padre e de uma tia velhota do noivo que não largava o andador. A Didica só praguejava o nome do cara. Como tentar transar com um Nivaldo? Que ainda por cima devia estar hospedado em um hotel com a família? E ainda a família da amiga dela?
Na verdade, nem foi tão difícil assim. Exatamente entre New York, New York e Y.M.C.A., a Didica fez a conversa mole chegar a mão na bunda sem o menor esforço. Quando o funk entrou em cena, foi mais fácil ainda pra Didica convencer o Nivaldo a leva-la a "um lugar mais tranquilo". O difícil mesmo, foi na hora do lance, dizer coisas como "aí Nivaldo", "ui, Nivaldo" ou "uau!! Nivaldo"! Mas depois da sexta vez, ninguém mais prestava atenção nisso e a Didica acabou relaxando. Relaxando tanto, que dormiu, sem tirar a maquiagem, sem desfazer o panetone que ela tinha na cabeça, e sem nem mesmo tirar o espartilho, que na igreja tanto incomodava.
Ao acordar pela manhã, revigorada e com a visão de um monumento dormindo ao seu lado, Didica sorriu. Feliz, tranquila, apaziguada. Levantou cambaleante, e foi até o banheiro. Meu Deus! Aquilo que refletia no espelho não era ela! O Alice Cooper devia ter trocado de reflexo! E o que era aquilo no cabelo dela? Aquele mafuá tortuoso que ela equilibrava na cabeça, só ajudava a piorar todo o resto. O Nivaldo, mesmo com aquele nome, não poderia ve-la daquele jeito. Então Didica saiu correndo dali.
Foi bem estranho quando as tias da noiva, que por acaso estavam no mesmo hotel, trombaram com aquele monstro que a Didica tinha virado no elevador. E mais estranho ainda foi dividir o taxi com elas, vestida daquele jeito, desmantelada daquele jeito e cheirando a sexo daquele jeito.
Se foi uma boa idéia ela sair correndo daquela maneira eu não sei, mas que até hoje ela e o Nivaldo ainda namoram, namoram... Se as tias acham uma boa idéia? Acham. São elas que estão montando o chá de cozinha da Didica, mas com certeza elas não colocarão álcool no cardápio.