Saturday, January 21, 2006

A PEQUENA CIDADE DE SÃO PAULO

Sempre achei que São Paulo não passa de uma grande cidadezinha do interior. Amo esta cidade com todas as minhas forças e com todos os problemas dela, e acho que esse fato não a desmerece nem um pouco, mas cada dia tenho mais a certeza de estar vivendo num lugar onde todo mundo se conhece e onde todo mundo, querendo ou não, pode estar por dentro da vida dos outros.
Só sei que vivendo nessa aldeia, temos que tomar muito cuidado com tudo que fazemos, pois nunca se sabe onde vai se cruzar com o próximo amigo-do-amigo que por um infortúnio lembra de você, ou com aquela menina que você saiu um tempo, ou mesmo com a mãe carola daquele seu amigo de presepadas.
Sempre achei que essas coisas só aconteciam comigo, depois conversando com os outros, trocando esse tipo de história, parei com a mania de perseguição e ví que era com todo mundo que acontecia, mas ao conhecer o Sérgio eu tive a certeza que comigo acontece muito pouco.
O Sérgio é um cara bacana, sensível, tem um bom emprego, um bom apartamento, um bom papo, cozinha bem, discursa bem e já passou por esse tipo de histórias tantas vezes que nem lembra qual delas foi a pior, mas com certeza a última vai ficar na cabeça dele por um bom tempo.
Digamos que por estar passando por um período meio foda no trabalho o Sérgio não saia com ninguém fazia tempo. Depois que a pressão aliviou um pouco, numa balada meio aniversário de um amigo nosso, o Sérgio conheceu a Karine e começaram a sair. O Sérgio não achava a Karine tudo isso, mas ela era linda, o fazia rir, era arquiteta, morava com uma amiga perto da casa dele, transava legal, as coisas foram se levando uma a outra e quando ele se deu conta já estava saindo com ela há umas duas semanas. As saídas dos dois nunca eram muito profundas, ele nunca tinha ido na casa dela, nunca tinha a levado em festas. No fundo o Sérgio não sentia firmeza na Karine, a achava meio sem sal, não rolava muita química, mas como o lance tava indo bem ele não reclamava e esparava a fila andar.
Dia desses, num esquentinha de outros amigos onde a bebida tava rolando solta, o Sérgio esbarrou com a Márcia e foi amor a primeira vista. Se atracaram na festa com requíntes de um vexame duplo e pra não piorar as coisas decidiram ir pra casa da garota, o Sérgio tava meio com medo da Karine ligar e coisa e tal, então preferiu um território neutro.
A noite do cara foi incrível, a Márcia se mostrou ser tudo que o Sérgio esperava, ela era tudo que a Karine era, mas nela ele sentiu a química que faltava na Karine. Na manhã seguinte, acordadando de cuecas o Sérgio saiu pelo apartamento em busca da mulher da sua vida. Qual não foi a surpresa do moço ao encontrar a Márcia e a Karine sentadas na copa do apartamento?
As amigas que moravam juntas, enganadas pelo mesmo calhorda, tudo se juntou na cabeça dele. Como ele podia ter saído com as duas, que conheceu em lugares completamente diferentes, em festas de amigos completamente opostos, e ter transado com as duas em menos de duas semanas? O que ele ia falar agora? Na minha opinião, o Sérgio tomou a única atitude que um macho de respeito poderia tomar numa hora dessas: passou a mão nas calças e foi embora, sem dizer uma palavra. Ele nunca mais as viu, e nem ligou pra nenhuma das duas.
É, tem situações que nem morando numa grande metrópole, a gente consegue escapar. Vai explicar uma história dessas! Só vivendo numa cidadezinha dessas bem pequenas, como São Paulo por exemplo, pra poder entender...

Thursday, January 19, 2006

NÃO, VOCÊS NÃO SABEM

E o pior é que eu tenho certeza que não sabem mesmo a arapuca em que estão se metendo. Lembram da expressão: "Não cutuque a onça com vara curta", pois ela se aplica muito bem a esse caso. Posso parecer aloprado, esquecido e o caralho, mas de bobo eu só tenho a cara e o jeitão de andar, e ainda bota memória nisso pra lembrar de quem mancou comigo.
Além de tudo, existem dois tipos de brincadeira, as que a gente faz, e as que a gente nem sonha em fazer. E essa daí, meus queridos, com certeza faz parte do segundo grupo.
Faço questão ainda, de deixar bem claro que não fui eu que comecei, mas que sou eu sim, que vou fazer de tudo pra terminar. E pode deixar, que farei questão também de declarar a hora que a "brincadeira" acabar.
Vinganças corriqueiras podem parecer babagem e uma coisa fora de moda nos dias de hoje, onde se ri de tudo e o mais passa desapercebido, mas pra pessoas como eu, que leram O Conde de Monte Cristo e que gostam desse tipo de jogo, elas ainda são um prato cheio de atrativos.
Gostaria também de chamar a atenção "daqueles que não fazem a menor idéia", para os perigos de quem vive numa cidade como São Paulo, como o estacionamento escuro, o elevador vazio, o banco de trás do carro filmado, um monte armadilhas... O jacaré do Rio Pinheiros por exemplo é uma delas, ninguém até hoje conseguiu saber do que ele se alimenta. Mas aos que quiserem descobrir, fica fácil: é só continuar com a bobeira.
Esta carta foi mais ou menos deixada na soleira de porta de umas pessoas hoje de manhã. Alguns deles podem não ter lido, por isso eu achei por bem publicar. No lugar da assinatura, além de um risco ilegível tinha também um resto de baba, algumas marcas de tinta borrada, e um pedaço de ingresso de O Fantasma da Ópera... Não sei o que isso tudo quer dizer, mas eu no lugar de quem recebeu, ficaria bem com medo e pararia de vez com o que quer que fosse.

Wednesday, January 18, 2006

PERDA DE MEMÓRIA RECENTE

Nunca fui um cara conhecido por lembrar das coisas. Muito pelo contrário, quando eu lembro de alguma coisa, é aí que as pessoas se espantam. Esqueço datas, nomes, telefones, senhas de banco, de onde eu conheço alguém e principalmente, sempre esqueço o que eu fui fazer em algum lugar.
A minha memória precária já me rendeu histórias incríveis, que infelizmente eu não esqueço de jeito nenhum. Já anotei códigos na minha mão para lembrar de coisas, e depois esqueci o que o código queria dizer, já marquei encontros com pessoas e na hora e no lugar marcado simplesmente achava que tinha esbarrado com elas por acaso, já fiquei domingos em casa, puto da vida por não ter nada pra fazer, enquanto todos os meus amigos me esperavam num churrasco que eu inesperadamente esqueci de ir.
Eu sou assim, quem me conhece sabe pra nunca confiar na memória que me falta, mas depois dessa última eu realmente ví que tenho que começar a me preocupar mais com isso!
Numa manhã dessas estava indo pra uma reunião fora, só que antes tinha que passar na casa de um cara que trabalha comigo que ia também. Tomei as medidas necessárias, anotei no alarme do celular, coloquei post it na direção, tudo pra não esquecer de pegar o moço. No horário marcado, eu apareci para pega-lo e tudo bem, fomos em direção ao Alphaville.
Lá pelo meio do caminho, naquele cenário de marginal parada e coisa e tal, eu lembrei que não tinha um só puto pro pedágio, e o cara me falou que não tinha também. Saí da pista expressa e caí na via normal, afim de encontrar um posto onde pudessemos tirar dinheiro e eu pudesse também comprar um cigarro, que naquela altura já estava me fazendo falta.
O cara insistiu em tirar o dinheiro, pois quem estava indo de carro era eu e tudo mais. Eu aceitei, fui comprar o meu cigarro, ainda levei mais um suco e voltei pro carro, dei a partida e fui embora, pegando a pista expressa novamente.
Mal consegui respirar quando notei a pasta do cara, no pé do banco do passageiro sem o cara segurando a alça. Um arrepio gelado me subiu pela espinha!! Como eu podia ter esquecido o cara lá? Onde eu estava com a cabeça!? E onde eu estava agora? Em que parte da marginal Tietê que eu não conheço? Como eu fazia pra voltar aonde eu estava?
A única atitude decente que eu pude tomar na hora foi ligar no celular do cara, que nem tinha notado minha ausência porque ainda estava na fila, e dizer pra ele esperar um pouco que eu já voltava. O tadinho nem podia acreditar quando eu apareci no posto, mais ou menos uns 20 minutos depois pra buscá-lo.
Tenho pensado ultimamente em andar com um crachá, que tenha o telefone da minha casa e de familiares próximos para o caso de eu esquecer quem sou ou como volto. No crachá também pode ter um avisinho em letras garrrafais, que diga que seu portador tem perda de memória recente, mas que se a pessoa fizer eu me esforçar um pouco, tenho certeza que vou acabar lembrando de tudo no fim.

Wednesday, January 11, 2006

AMARGO RETORNO

Então num belo dia você está lá, largado na areia com protetor 4, que nem de longe é o recomendado para o seu tipo de pele, tomando uma água de coco que custa 0,75, enchendo a cara de um camarão que é praticamente do tamanho da sua mão esquerda, almoçando lagosta a preço de feijão, olhando aquele mar de um pantone que você nem sabia que existia na nauteza e no dia seguinte: PUMBA! Está de volta ao trabalho.
Tamanha violência deveria ser prevista no código penal! As pessoas tinham que voltar de férias gradativamente. Ninguém volta pra rotina no tapa, aos poucos seria muito melhor. No primeiro dia deveriamos só ficar meio período pra contar as novidades, no segundo dia, meio período também só pra ler os e-mails e ouvir as novidades dos outros, no terceiro dia você teria que ficar até as 3 da tarde, mas poderia levar um amigo e fazer um almoço de 4 horas. No quarto dia as coisas seriam um pouco mais puxadas, portanto no final do dia, lá pelas 4 da tarde, você ganharia uma massagem revitalizadora que começaria a colocar todos os seus neurônios no lugar. E finalmente no quinto dia, que geralmente cai numa sexta-feira, você poderia fazer um almoço de apenas 3 horas, mas pra compensar poderia sair 2 horas mais cedo.
O mundo seria bem melhor se fosse assim... Já imaginou a cara das pessoas que acabaram de voltar de férias indo embora mais cedo? Em algumas empresas mais familiares, os funcionários poderiam até levar suas mães, filhos, gatos, cachorros e papagaios nos primeiros dias.
Mas, como as coisas ainda não chegaram a esse nível de humanidade, como os grandes empresários ainda não tesse esse tipo de visão do funcionário, você volta do paraíso, meio que ainda cheirando a sal, pra sentar direto na sua cadeira sem vista para o mar, e puxar os seus 784 e-mails. Nossa, como as coisas podem ser tão cruéis logo no começo do ano?