Tuesday, July 05, 2005

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA?

O que dizer de um bom e velho Nelson Rodrigues? É fantastico ler aqueles parágrafos onde nenhum dos personagens presta, todos estão em busca do hedonismo sem fronteiras, os ricos sacaneiam os pobres, os pobres se vingam nos filhos, que matam os pais de desgosto, canálhas saem ilesos, velhas se tornam prostitutas, meretrizes mães de familia, todo mundo que parece santo não é e todo mundo que é faz papel de idiota... Igualzinho a nossa vida, dadas as devidas proporções e também sem o final trágico típico de Nelson Rodriges.
Um bom Nelson Rodrigues também tem que ter uma história de amor mal resolvida, vivida por alguém que está bem frustrado, que geralmente é chamado por um sobrenome tipo Saraiva, Saldanha ou Teixeira, e que trabalha em uma repartição pública. Quer dizer o básico da sociedade carioca na década de 30. Se pararmos pra pensar são histórias comuns, de gente comum, com vida comum, mas por serem obras literárias temos acesso a informações que não teríamos se não vivessemos o ocorrido.
Essas pérolas "rodriguianas" permeiam a minha cabeça desde a adolescência e eu nunca soube porque tanta gente gosta de ver aquele monte de gente se ferrando a cada nova história, a cada novo capítulo e a cada caída do pano. Será que gostamos de ver as pessoas se darem mal? Será que saciamos algum tipo de sanguinolencia vendo o fim horroroso que isso tem? Ou será que esse sucesso se dá por conta de sermos bobos e apreciamos qualquer coisa que seja diferente do resto?
Fico pensando que Nelson Rodrigues conseguiu achar uma fórmula tacanha de nos dar um alerta de como somos realmente. Ele viu que nos sentimos satisfeitos ao ver que é bom ser um pouco mal, que quem é bonzinho demais sempre se dana, que família desestruturada acelera o fim trágico, que a vida de todo mundo tem problemas e que mesmo quem só rodeia sai chamuscado. Achou um jeito de nos dizer que pensamos como animais vingativos e ainda estamos presos àqueles rituiais de caça às bruxas e torturas cristãs. Rusumindo, nós gostamos sim de ver que todo mundo se ferrar, pelo menos na ficção, nossa culpa por sermos hedonistas, na maior parte do tempo, se refrestela ao ver que a vida trata todo mundo igual, que nunca se sai limpo de uma história suja e que toda nudez será sempre castigada (pelo menos aos olhos do Nelson).
Não que eu ache certo ou concorde com a falta de parâmetros sociais e morais das personagens rodriguianas, mas acho que esse remédio para essa "culpa" incutida que nos foi dada de herança deve começar, e começar hoje, a ter seus dias contados. Não podemos ser os juízes dos outros, nem na ficção, afinal a culpa só é bem sentida quando é sentida por quem fez, e na boa, quem somos nós pra julgar o que cada um deve ou não fazer e como deve ser o fim de cada um... Como já diziam: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". Mas de certa forma, temos que adimitir que ainda é maravilhoso ler que os vilões e todos aqueles que não agiram certo, sob qualquer visão, vão ter sua cota de sofrimento quando chegar o final. Afinal de contas ainda somos um pouco românticos...

1 comment:

Ana Téjo said...

Oi, dear,

Muito bem, viu? Assim que a sua musa gosta: muito e sempre!
Sou suspeita para falar de NR de maneira isenta. Tenho o maior bode dele. Nunca gostei dessa visão "mondo cane" do mundo, mas reconheço seu valor como dramaturgo.
Enfim... ando mesmo meio mal humorada. Não me dê muito crédito.

Beijo,
JU...