Friday, July 29, 2005

O PREÇO QUE AS COISAS TEM

Fazer nossa própria contabilidade é um exercício de paciência, carinho, atenção e luta contra a ansiedade. Como desde os primórdios a matemática nunca foi meu forte, conto com a ajuda de uma planilha, que todos os meses desde que senti a necessidade na carne, anoto manualmente todos os meus créditos e débitos. São continhas de mais e de menos que deixam qualquer um com pena de olhar o raciocínio, pois como também não sou bom de excel, anoto cada cálculo do lado da folha da mesma planilha pra não me perder. Pra um diretor de arte isso é um verdadeiro inferno.
Desde que comecei nessa onda de anotação, vejo que me tornei um ser menos consumista, menos impulsivo, mais ponderado e mais chato também. Mas, o que não dava mais era entrar na tela de extrato e ver aquele número em vermelho no lugar do saldo, ainda por cima com um sinal de menos na frente. Confesso que anotar e contabilizar é uma angústia, mas com certeza uma angústia menor que a do negativo.
Então, lá ia eu todo despreocupado e feliz, gastando e anotando meus débitos, horas mais assiduamente, horas menos, mas no fim corria tudo bem. Até chegar a contabilidade do mês passado. Ao tirar meu extrato, vi nitidamente (até porque rolou o lance do sinal de menos e da cor vermelha) que os números não batiam com o que eu esperava. Mas o que teria acontecido? Eu teria me tornado um idiota e não sabia mais fazer continha de chegar? Clonaram meu cartão do banco e agora eu ia ficar com a conta presa pra sempre?
Sentei desesperado na frente da tela, minhas mãos estavam geladas, minha nuca arrepiada, eu tremia e minha boca ficou seca na hora (é louco como os sintomas são os mesmos de quando você está apaixonado). Comecei a ver cada item do meu "atestado de pobreza", cada um dos sinaizinhos de menos que tinham na frente dos números, eu era uma raposa em busca da caça, nada iria passar pelos meus olhos. Ao longo da malfadada leitura, eu fui me ligando que tinham alguns pequenos débitos (coisa de 8 ou 12 reais) que eu tinha esquecido de marcar, umas miudezas pequenas que eu fui deixando passar, porque afinal de contas eu estava marcando, mas estava despreocupado, fazendo a linha marcador low profile. No final da checagem, ao somar todas as escapulidas do meu próprio sistema, eu pude perceber que os números batiam com perfeição! Perfeição matemática.
A minha revolta foi tanta que eu tive vontade de tirar satisfações comigo mesmo, me encher a cara de tapas, usar técnicas de auto-penitência com requintes de crueldade, eu constatei que quando o assunto é dinheiro, eu não posso confiar nem em mim. Eu mesmo me burlei! Esqueci as regras que eu mesmo tinha estipulado!
Quando nos propomos a fazer alguma coisa, temos que fazer direito. E eu não estava fazendo direito, estava era arranjando um jeito de falar que eu era controlado não sendo. Essa historinha de low profile, é puro papo de ex-viciado em compras! De agora em diante não passa nada sem que a caneta acusar, até pelo menos eu aprender a usar melhor o excel. O que fica é um sentimento pavoroso se certificar que um cinema que você paga 10 reais, não sai por menos de 17 (contando os 5 reais de estacionamento e os 2 reais de um chicletinho). Esses pormenores acabaram com a minha vida despreocupada, agora sei que serei um homem preocupado pra sempre! Talvez esse rombinho na minha conta sirva pra eu aprender de uma vez por todas essa lição contábil. Só sei que, na boa, eu poderia ter pedido um descontinho no preço da aula.

3 comments:

Anonymous said...

Eu chamo esses 8, 6 reais que gastamos de "perdas insensíveis", que no final somam a maioria dos meus gastos!

Anonymous said...

Fui eu que escrevi o último, esqueci do nome.
Beijo, lindo

Ana Téjo said...

Hei, babe,

Quer fazer a minha contabilidade?
Eu cuido da coluna do menos e você, da coluna do mais. Ponho meu salário inteirinho na sua mão assim que o receber e você faz chegar no fim do mês, tá? Só quero ver!

Beijos,
JU...