Sunday, July 17, 2005

AS FASES DA VIDA

Faz muito tempo, acho que ainda era adolescente, eu assisti à uma peça muito ruim. Direção ruim, iluminação ruim, atores ruins, figurinos ruins, mas texto bom. Se tratava de “O tempo e os Conways”, de JB Priestley, um clássico! Eu já nem lembrava mais que tinha visto algum dia essa montagem, quando semana passada o texto, litetralmente, caiu nas minhas mãos, enquanto eu olhava uma banquinha de usados da Benedito Calixto. Peguei, olhei, revirei, guardei, tornei olhar, revirar e guardar... pronto comprei. Na hora devo ter pensado que já eu não lembrava mesmo da história, poderia ser uma boa reler.
Passei a tarde lendo e me perguntando porque eu tinha gasto quinze reais naquela porcaria? Aqueles atores rins na verdade tinham era tirado o foco da minha atenção da cahtice que era o texto. Enfim, continuei a leitura, porque na boa, acreditava que uma hora as coisas iam mudar. E então, nas duas últimas páginas manchadas eu encontrei a resposta.
"O Tempo e os Conways" narra a história de uma menina que na sua festa de aniversário, tem uma visão do futuro e do que está destinado aos demais membros da família. Só sei que na hora da catarse final, na cena onde a mocinha vê que não terá jeito e tudo que ela temia vai acontecer, uma personagem solta a seguinte fala: "Tudo que somos é um composto de fases, e quando chegarmos ao final dessa vida, todas essas fases, seremos nós".
Pronto, estava aí o motivo pelo qual o livro caiu na minha mão! Comecei a pensar no composto de fases que eu já sou e no que ainda está por vir, na salada que vai ser quando tudo isso acabar e alguém resolver somar todas pra ver o que dá, na metamorfose que é minha vida e em todas as pessoas que já passaram por ela. Quando abri o Orkut então foi o fim, cada uma daquelas fotos representava um momento meu, uma parte da minha vida, alguma daquelas fases, ou mais longa ou mais curta, ou mais feliz ou mais triste, ou mais curiosa ou recolhida... As pessoas que eu conheci, estavam lá listadas como que pra assegurar as fases que eu passei, pra assegurar que eu sempre iria me lembrar o quão imporatantes elas foram e no quão difícil é imaginar cada uma dessas fases sem elas. Não consigo lembrar partes da minha vida sem lembrar de pessoas muito especiais que hoje simplesmente sumiram no mundo. As fases mudam e as pessoas também. Logicamente que tem aquelas que fazem parte de várias fases, mas essas, se não são família ou algum carma, são os amigos da vida inteira.
Sendo um pouco mais profundo, mas só um pouco, porque profundidade demais cansa: para cada uma dessas pessoas, que cumpriu seu papel na minha vida e se foi, tem uma pessoa que eu também cumpri o meu papel e me fui. Então se cada uma delas, lembrar dessa fase que compartilhamos pelo menos uma vez por ano... ahhh, minha imortalidade tá garantida.

7 comments:

Cláudia said...

Xu
de minha parte, garanta sua imortalidade e seu lugar na escadinha do purgatório contando passo-a-passo, de preferência com desenhos explicativos, como é que a gente faz pro número da gente não aparecer no celular de pretendido.
Pra diminuir a incidência de micos na vida das mulheres apaixonadas e ansiosas, categoria na qual me incluo e quiçá encabeço.
beijo

Ana Téjo said...

Bicho bonito, querido, enciumado e imortal* da minha vida,

Você não me fez nada.
Aliás, fez, sim. Fez e faz um bem enorme com essa sua presença tão deliciosa e revigorante na minha vida. Fico feliz por também fazer parte da sua. Lindo texto!
JU...

*Agora, aguenta a criatura. Descobriu que escreve pra caramba e que é imortal... vai querer entrar pra ABL!

Zagaia said...

E olha que eu nem tinha pensado em entrar na ABL!!! hahahahha. Nem foi com esse enfoque de imortalidade que eu pensei!

Ana Téjo said...

Menino,

Sobre "O Tempo e os Conways", veja cá o que é sofrimento: eu não só assisti a dita cuja, como assisti a uma montagem experimental, no original, em inglês, com os alunos do ensino médio (que na época se chamava colegial, ou Form 8, ou sei lá) do Saint Paul School.
Minha prima fazia uma solteirona (tem uma solteirona na peça, não?), que tocava algo ao piano no final do espetáculo. Não lembro bem o que era, mas sei que ela ficou meeeeeses ensaiando a bendita música.

Acho que fiquei tão anestesiada com a coisa toda, que nem registrei a tal frase lapidar do final... acontece.

Beijos.

Zagaia said...

Viu Zgaia tb é cultura!! "O Tempo e os Conways" eu desenterrei né?

Anonymous said...

Muito bom pensarmos pelo outro lado, não só nas pessoas que passaram pela nossa vida e são importantes, mas por quantas vidas passamos e deixamos marcas também...
Beijo.

Anonymous said...

intiresno muito, obrigado