Lucia era moça prendada, filha mais velha de 9 irmãos, morava em Avaré e frequentava o normal da escola pública que levava o nome de seu avô. Por ser de uma família grande, era comum dividir entre os filhos os afazeres domésticos, mesmo quando dispunham de mão-de-obra especializada. Para Lucia sempre sobrava a tarefa de lustrar os talheres de alpaca que pousavam sobre a mesa de refeição da família. Aquele tormento diário lhe tirava o humor pelo menos umas duas vezes num período de 15 horas.
A alpaca é um metal altamente oxidante, que teme a humidade das mãos até logo depois de ser areado. Não me perguntem por que os talheres eram feitos desse tipo de material, mas que realmente aquilo era uma provação pra pobre da Lucia era.
Vendo a aflição da filha ao lustrar os talheres antes de todas as refeições, a mãe de Lucia que via total sentido naquela trabalheira toda, tentou de todo jeito, fazer a filha enxergar a tarefa com outros olhos, mas não adiantava, enquanto areava os talheres Lucia era só reclamação.
Certa noite durante o jantar, ao repreender outro dos 9 filhos, a mãe falou em tom profético: "Quem vai para o inferno quando morre, passa toda a eternidade fazendo o que não gosta". Aquilo foi um soco para Lucia, naquela frase ela previu a sua vida no pós-morte: a moça iria, sem a menor dúvida, passar toda a eternidade no inferno areando talheres de alpaca. Ela mal podia acreditar em seu destino quando deitou naquela noite pensando em como conseguiria mudar aquele sentimento em relação aos talheres. Durante o resto do tempo que seus pais tiveram aquele faqueiro, Lucia imaginava formas de tornar aquele trabalho um pouco mais divertido, mas na boa, sabemos que isso nunca funcionou.
Os anos se passaram e Lucia casou, veio morar em São Paulo, teve 2 filhos, 8 noras, 7 netos, viu a chegada do homem à Lua, torceu pelo Brasil na copa de 70, conheceu a Europa, ficou viúva, conheceu a Rússia e hoje, aos 87 anos, faz a melhor torta de frango do Estado e também faz aula de computação e hidroginástica. Mas lá no fundo, Lucia ainda tem medo de morrer, ir pro inferno e lustrar talher até o dia do juízo final. Por que será que certos medos nunca nos abandonam?
A alpaca é um metal altamente oxidante, que teme a humidade das mãos até logo depois de ser areado. Não me perguntem por que os talheres eram feitos desse tipo de material, mas que realmente aquilo era uma provação pra pobre da Lucia era.
Vendo a aflição da filha ao lustrar os talheres antes de todas as refeições, a mãe de Lucia que via total sentido naquela trabalheira toda, tentou de todo jeito, fazer a filha enxergar a tarefa com outros olhos, mas não adiantava, enquanto areava os talheres Lucia era só reclamação.
Certa noite durante o jantar, ao repreender outro dos 9 filhos, a mãe falou em tom profético: "Quem vai para o inferno quando morre, passa toda a eternidade fazendo o que não gosta". Aquilo foi um soco para Lucia, naquela frase ela previu a sua vida no pós-morte: a moça iria, sem a menor dúvida, passar toda a eternidade no inferno areando talheres de alpaca. Ela mal podia acreditar em seu destino quando deitou naquela noite pensando em como conseguiria mudar aquele sentimento em relação aos talheres. Durante o resto do tempo que seus pais tiveram aquele faqueiro, Lucia imaginava formas de tornar aquele trabalho um pouco mais divertido, mas na boa, sabemos que isso nunca funcionou.
Os anos se passaram e Lucia casou, veio morar em São Paulo, teve 2 filhos, 8 noras, 7 netos, viu a chegada do homem à Lua, torceu pelo Brasil na copa de 70, conheceu a Europa, ficou viúva, conheceu a Rússia e hoje, aos 87 anos, faz a melhor torta de frango do Estado e também faz aula de computação e hidroginástica. Mas lá no fundo, Lucia ainda tem medo de morrer, ir pro inferno e lustrar talher até o dia do juízo final. Por que será que certos medos nunca nos abandonam?
3 comments:
Muito bom, my dear.
Essa, eu respondo fácil. Alguns medos nunca nos abandonam porque são atávicos, fazem parte da pessoa que somos. Se tentarmos abandoná-los, não nos reconheceremos. É simples assim.
Beijo,
JU...
Minha mãe dizia que "quem anda de costas manda a mãe para o inferno".
Cada vez que ela tinha um simples resfriado eu achava que ela ia morrer, e ia para o inferno, e por minha culpa, porque tinha andado de costas.
Acho que até hoje não ando de costas por isso... vai saber...
Juuu!! Matou a pau!! Meu Deus, quanto conhecimento inbutido! Olha, invejei!!
Cláu, tudo bem... o medo é seu não vamos discutir... mas quem anda de costas a mãe vai pro inferno?? Tadinha da minha! Andar de costas era uma das mihas brincadeiras preferidas! Bjos
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