A Claudinha era a "mais gostosa do colégio", e olha que ela nem estava na oitava série quando ganhou esse título. A Claudinha já tinha peitos quando a maioria dos meninos nem sabia o que era isso, já se usava de seu jeito de Lolita, pra pegar os professores de surpresa com suas caras e bocas provocantes, quando eles menos esperavam. A Claudinha já era p.h.d., quando todo mundo ainda era amador. Ao chegar na sétima série a Claudinha já botava fogo nos sonhos do colegial inteiro, já tinha beijado os "top ten mais populares" e já tinha adquirido uma posição de responsabilidade dentre todos os alunos do XII de Outubro.
Além disso, Claudinha era uma "coisa", era linda, meiga, simpática, atrevida, engraçada e principalmente sincera, qualidade muito valorizada pelos adolescentes daquela época. Claudinha circulava bem entre os inteligentes, entre os fanáticos por Educação Física, entre o pessoal que "tinha uma banda", entre as caminhoneiras, entre as feias, entre os esquisitos, entre os populares, enfim, Claudinha era unanimidade entre todo mundo que frequentava a escola. A menina tinha um brilho no olhar, que se não te fizesse se apaixonar, te fazia acreditar que ela ia mudar o mundo.
Claudinha também tinha uma vida digna de inveja, sofria na escola com a separação dos pais, com o padrasto pobre, com o pai que não pagava o colégio, e "sofrimento com causa" para os adolescentes, também era algo bastante invejável. Como se não bastasse, Claudinha ainda vivia acontecimentos. Onde ela estava sempre rolava uma história, como quando foi pega fumando no cemitério perto da escola, ou como quando sabotou a Tia do cachorro quente por aumentar os preços ou mesmo quando conseguiu fundos, pra trocar a prótese da professora de Ciências.
Sem contar que a Claudinha ainda ditava a moda. Se ela aparecesse com o "adidas" dobrado até joelho na quinta, na sexta isso já era de praxe. Se andasse pisando no contra-forte do London Fog na festa de sábado, na segunda, quem não pisasse era brega.
Em todos os anos que eu tive o prazer de estudar na mesma classe que ela, eu era um menino feliz, só por sentir o perfume do seu cabelo molhado de manhã, ou por receber um chiclete do seu troco, ou mesmo por beber suco no mesmo canudo, quando ela me oferecia.
O tempo passou, e eu matei a minha vontade de ficar com a Claudinha numa festa de reencontro dos alunos da escola, quando eu já estava na faculdade. Lembro que ela correspondeu a tudo que eu tinha imaginado quando moleque, e ainda me fez sonhar por mais um tempo. Como as coisas não acontecem todas bonitinhas, nós voltamos a nos separar, dessa vez por muito mais tempo, e hoje em dia, quando muito, ainda nos encontramos nas eleições.
A Claudinha pode estar gorda, com dois filhos pendurados no colo, toda desarrumada, descabelada e com aquela cara de domingo de chuva, mas por incrível que pareça, ela ainda não perdeu o brilho nos olhos que fazia a escola se deitar aos seus pés, e muito menos o ar de garota que vai mudar o mundo, mesmo não sendo mais nenhuma garota. Tem certas coisas que nunca mudam...