Monday, August 08, 2005

QUADRILHA

Jõao ama Maria, que ama Pedro, que ama Antônia, que ama Carlos, que ama Lúcia, que ama Paulo, que ama Márcia, que ama Alberto, que ama Marcos, que ama Larissa, que anda indecisa entre o Cláudio e a Regininha. A vida de todo mundo tem dessas passagens. O engraçado é que trocando os nomes essa poderia ser a história de muita gente que conhecemos, até mesmo a nossa, e o poema onde me inspirei pra escrever essa bobagem foi escrito há um puta tempo, quando o Carlos Drummond de Andrade estava em um momento ímpar de inspiração. O poema inteiro, tem um final diferente, mais romântico, mais poético, mas na nossa vida o fim é como o meu mesmo, tudo mal resolvido com um monte de gente envolvida e pouca solução.
Nunca fui muito fã de ler poemas, sempre achei a profundidade deles um pouco chata e confusa, mas acho que hoje, devido à profundidade que a minha própria vida tomou às vezes, mas muito às vezes mesmo me pego lendo poemas. Nada famoso, nem nada "nova geração progressista de vanguarda, etcétera", mas uma coisinha aqui outra acolá, eu leio sim.
Quadrilha eu conheci de um modo estranho, estava sentado em um ônibus (no tempo que eu ainda pegava ônibus) e uma menina, mais ou menos da minha idade estava elndo um livro de poemas... Como eu não tinha nada melhor pra olhar dentro do coletivo e muito menos fora, resolvi pegar carona na leitura da garota, afinal como era um pouco só de texto por página, sempre com começo meio e fim eu podedia ler, desencanar, voltar a ler. Até porque que lê poemas para depois pra refletir.
Foi então que no alto da página estava lá escrito: "Quadrilha". Eu pensei que devia ser algum tipo de bobajada, a lá "festa de São João" e li. Ao terminar não entendi e voltei ao começo, li de novo e de novo, ao olhar para a menina, ela estava aos prantos, chorava copiosamente e as lágrimas caiam gordas no livro. Parei na hora de ler o livro da garota! Menina louca! Lê uma coisa daquelas e chora!? Essa história passou e muito tempo depois eu vim reler "Quadrilha", não é que, ao entender toda a complexidade do poema, ao ver que a nossa vida com o passar dos anos fica cheia desse tipo de desencontros, tive que enxugar a lágrima que escorreu no meu rosto. Mas eu acho que essa lágrima não escorreu só por eu ter me ligado do que antes era complexo demais pra mim, mas sim por eu também ter compreendido os motivos daquela garota chorona do ônibus. Que fim será que se deu na quadrilha dela?
Com vocês, Carlos Drummond de Andrade: "João amava Teresa que amava Raimundo, Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes, que não tinha entrado na história."

5 comments:

Ana Téjo said...

Bicho furão dos porres obrigatórios da trupe "Respira de Bóbis" de domingo,

O que te salva nessa vida, é que você é um fofo de pai e mãe!
E tem muita gente que ama você, viu? Tipo assim... eu e o resto da galera do Mengão!

JU...

Renata Amaral said...

Será que depois que "envelhecemos", vamos ficando chatos e confusos a ponto de compreender poemas?

Sou apaixonada por poesias... deve ser um péssimo sinal!!!

bjos

Anonymous said...

Ju, estou apaixonada pelos seus textos. Tem q publicar mesmo!!!

Ainda bem que eu nao tenho q decidir qual deles gosto mais. Primeiro, eu gostei mais da Versão e o Fato, então fiquei encantada como o seu Fantasma do retrovisor, morri de dar risada com a Maria Eduarda e me apaixonei pela Quadrilha. Vou parar por aqui porque essa frase está muito comprida, chata que nem as do José Saramago. E eu não sou vc nem José Saramago...

Muitos parabéns, querido. Adoro quando alguém aumenta a minha lista de vícios: agora vou ter que ler seus contos todos os dias.

Marília said...

Oi. Encontrei seu blog na busca do google, estava procurando o poema de Drummond para colocar no meu blog. Rsrsrsrs Achei mais do que isso. Gostei muito do jeito simples e claro que você escreve! Vou frequentar mais esse blog. Se quiser dá uma olhadinha no meu! Abraços!

Daphne Garcez said...

Achei ótima sua adaptação do Carlos D. A.! ;)