Thursday, September 29, 2005

AS BARBIES DO SOTÃO LÁ DE CASA

Trabalhar em uma sala com outras pessoas é como fazer diariamente terapia de grupo. Sempre há um tema rolando e todos, meio que, como no analista, vão soltando frases, sem olhar uns pros outros, com o foco de atenção em outro lugar. Além disso, a privacidade chega a níveis ridículos, e é quase obrigatório saber dos detalhes mais sórdidos, da vida das pessoas que sentam ao seu lado.
Esta semana, durante dois dias o tema em questão teve um certo ar nostálgico. Conversamos sobre doces que gostávamos quendo éramos crianças, sobre quem assistia a qual programa, sobre quem era da época da corrida de cavalinhos do Bozo, sobre quem brigava com os irmãos, sobre qual era o pior castigo que nossas mães nos aplicavam, sobre qual era o nosso sonho de consumo em se tratando de brinquedos velhos, e por fim sobre qual era a nossa brincadeira preferida.
Devo dizer que por ser o único homem em uma sala com com mais 4 mulheres, as Barbies ganharam na preferência da amostragem, com larga vantagem. Ainda por cima a descrição das brincadeiras teve teve uma riqueza, jamais vista em outras dicertações. Ouvi durante toda uma tarde relatos do tipo: "Na minha época não tinha o Ken, nem os filhos da Barbie, então eu usava o Falcon do meu irmão como marido, e a Moranguinho era a filha!"; ou ainda: "A minha Barbie criava o Meu Querido Pônei no quintal da casa dela!"; ou melhor: "Meu Ken não servia pra nada, ele só ia trabalhar e ficava sentado no sofá, agora minha Barbie só se arrumava, se penteava e trocava de roupas o dia inteiro, sentada nos potes de Danete!".
Por ter uma irmã que sempre fez parte da minha vida e que sempre foi uma das minhas grandes amigas, eu sabia exatamente do que elas estavam falando, de todo esse "reaprovaitamento" da linha Estrela pra ajudar a criar o mundo da Barbie, da problemática das Barbies brasileiras serem branquelas e não poderem de forma nenhuma molhar o cabelo, da sucata de potes de iogurte, yakult e caixas de sapato que se tornava esse tipo de brincadeira e do poder de imaginação que era preciso pra tornar aquele monte de plástico, papelão e lixo numa fábrica de histórias de futilidade, ambição e desejo de consumo.
Isso tudo também me fez pensar onde estariam aquelas Barbies que fizeram a alegria da minha irmã durante tantos anos, e que enfeitaram o quarto dela em lugar de honra durante toda a infância. Todas aquelas Barbies, que tinham nomes intrasferíveis e importados, que sempre estavam lindas e sorrindo, paradas na prateleira. Quando fui perguntar à minha irmã onde estavam aqueles pilares do bom gosto da década de 80, a hoje já mulher de 27 anos, me respondeu displicente que estavam no sótão, em alguma caixa, junto com todas as roupas e com todos os acessórios que elas, as bonecas, usaram até gastar.
Pobres Barbies... Tão ricas e poderosas antes, e agora tão sozinhas e com furos nas roupas. Hoje, quando passo pela entrada do sótão, na casa da minha mãe, é impossível não pensar, que aquelas Barbies que eram "tudo que minha irmã queria ser" hoje, dariam de tudo para ser só um pouco do ela é.

8 comments:

Cláudia said...

Como pode uma coisa tão chique como ter um sótão em casa?

Renata Amaral said...

Não se esqueça que o Rambo fazia parte da história.

Textos cada vez melhores e gostosos de se ler.

Ana Téjo said...

Querido,
Como eu sou do tempo da Susy, não vou nem comentar pra não parecer vééééélha.
Adorei o final reflexivo...
Ah, a gente por ir brincar no sótão da casa da sua mãe um dia desses?

JU...

Admin said...
This comment has been removed by a blog administrator.
Zagaia said...

Ceiça, é sobrado de mãe... sempre tem sótão!

Rê, muito obrigado, e se a gente fosse contar todo mundo que participava , ia dar outro post! hehehe

Ju, linda, pode ir o dia que vc quiser! Aho que as Barbies iam adorar!

Anonymous said...

A minha Barbie tb tinha o Meu Querido Poney!!! Mas ela era uma workaholic; passava o dia no escritório...engraçado, né?

Cláudia said...

ATUALIZAR O BLOG NUNCA MAIS, XU?

Zagaia said...

Tati, o que não parece com o dono é roubado!

Ceiça, me perdoe! Ando tendo que garantir o leite das crianças..