Poucas histórias marcam tanto a nossa vida quanto as vividas na infância. Acho que por terem cores, cheiros e dimensões diferentes elas ficam armazenadas em um lugar que todo mundo trata com carinho. Uma das que mais me marcou, é lembrada até hoje por amigos, familiares e até colegas de trabalho, assim que eu ponho o pé dentro de uma sala de cinema.
Mais ou menos ha uns vinte e poucos anos, mais ou menos nessa época do ano, minha mãe mais ou menos desesperada não sabia o que fazer com os dois filhos pequenos, que tinham acabado de entrar em férias e estavam botando a casa abaixo. Naquela época, minha irmã com uns 4 anos e eu com uns 6, nós dois eramos peritos em espalhar brinquedos, fazer guerra de comida, dar gritos para conversar com os vizinhos e nos pendurar na janela mexendo com quem passava na rua. Nos ter em casa era tão sofrido que qualquer motivo era bom pra sair com as crianças penduradas. Foi num momento desses que minha mãe teve a "brilhante idéia" de nos levar ao Iguatemi, para comprar o que ainda faltava para o Natal e pra assistir Bambi, junto com a gente.
Lembro que a quantidade de crianças felizes na entrada do cinema era enorme, todas rindo, correndo, gritando, comendo pipoca, uma verdadeira festa. Antes da sessão começar, minha mãe nos colocou nos lugares ao seu lado e sentou orgulhosa no meio das crias. Ia ser uma momento sereno, ela ia ficar duas horas tranquila comigo e com a minha irmã quietos e felizes. Mas, o sossego dela durou muito pouco...
Tudo corria bem até que de repente, POW! Matam a mãe do Bambi. Na hora eu não pude acreditar que estava acontecendo aquilo! Como isso podia acontecer num filme infantil? Será que quem tinha feito esse filme tinha pensado em levar todas aquelas crianças lá, só pra tortura-las com essas idéias horríveis de mães morrendo e caçadores sanguinários?
Buáááááááááááááááá! Meu choro foi alto e incontrolável, não só o meu mas o de outras crianças que estavam lá. Minha mãe se afundou na cadeira, as outras crianças logo se acalmaram com o coelhino Tambor e com as cenas floridas que vinham logo a seguir, mas eu não, continuava o meu choro sentido, ensurdecedor e indignado:
- Eu não acredito que a mãe do Bambi morreeeeeeeeeeeeu!
- Calma filho!
- Buáááááááááááá!! Cadê a mãe do Bambi? Ela morreu mãe? Ela morreu? Mãããããããããeee diz que ela não morreu!!
- Calma filho, é um filme!
Não demorou muito para a lanterninha aparecer e pedir pra minha mãe me tirar da sala, porque eu estava atrapalhando a sessão. Irada ela praticamente me arrancou da cadeira, falou pra minha irmã, que não tinha derramado uma lágrima, não levantar da cadeira e me arrastou pro saguão:
- Buáááááááááá!! A mãe do Bambi morreeeeu!
- Filho fica quieto! Eles não vão deixar você voltar para o cinema!
- Eu não quero voltar, a mãe do Bambi moreu!! Buáááááááááá!!
Até que num momento de iluminação, quase me sacudindo de tanta vergonha, minha mãe falou:
- Ela não morreu filho, ela já volta. Vão descobrir que ela só estava sumida, e daqui a pouco ela aparece de novo.
- Ela não morreu? Snif.
- Não. Agora fica tranquilo, respira fundo pra gente ver o filme.
Dois copos d'água e uma lavada de rosto depois, nós voltamos para as cadeiras e eu até consegui curtir um pouco do que restou do Bambi. Quando acabou o filme e a mãe do Bambi não apareceu, tive que perguntar de novo com um nó na garganta:
- E a mãe do Bambi, mãe? Ela morreu mesmo?
- Ah filho, quando a gente saiu da sala, ela voltou, explicou que era tudo mentira e disse que não tinha morrido. A gente perdeu essa cena.
Demorei anos pra descobrir que a mãe do Bambi tinha morrido de verdade e até hoje ainda sofro da "Síndrome do Bambi", que entre outras coisas causa vexames sérios em salas de cinema.
Mais ou menos ha uns vinte e poucos anos, mais ou menos nessa época do ano, minha mãe mais ou menos desesperada não sabia o que fazer com os dois filhos pequenos, que tinham acabado de entrar em férias e estavam botando a casa abaixo. Naquela época, minha irmã com uns 4 anos e eu com uns 6, nós dois eramos peritos em espalhar brinquedos, fazer guerra de comida, dar gritos para conversar com os vizinhos e nos pendurar na janela mexendo com quem passava na rua. Nos ter em casa era tão sofrido que qualquer motivo era bom pra sair com as crianças penduradas. Foi num momento desses que minha mãe teve a "brilhante idéia" de nos levar ao Iguatemi, para comprar o que ainda faltava para o Natal e pra assistir Bambi, junto com a gente.
Lembro que a quantidade de crianças felizes na entrada do cinema era enorme, todas rindo, correndo, gritando, comendo pipoca, uma verdadeira festa. Antes da sessão começar, minha mãe nos colocou nos lugares ao seu lado e sentou orgulhosa no meio das crias. Ia ser uma momento sereno, ela ia ficar duas horas tranquila comigo e com a minha irmã quietos e felizes. Mas, o sossego dela durou muito pouco...
Tudo corria bem até que de repente, POW! Matam a mãe do Bambi. Na hora eu não pude acreditar que estava acontecendo aquilo! Como isso podia acontecer num filme infantil? Será que quem tinha feito esse filme tinha pensado em levar todas aquelas crianças lá, só pra tortura-las com essas idéias horríveis de mães morrendo e caçadores sanguinários?
Buáááááááááááááááá! Meu choro foi alto e incontrolável, não só o meu mas o de outras crianças que estavam lá. Minha mãe se afundou na cadeira, as outras crianças logo se acalmaram com o coelhino Tambor e com as cenas floridas que vinham logo a seguir, mas eu não, continuava o meu choro sentido, ensurdecedor e indignado:
- Eu não acredito que a mãe do Bambi morreeeeeeeeeeeeu!
- Calma filho!
- Buáááááááááááá!! Cadê a mãe do Bambi? Ela morreu mãe? Ela morreu? Mãããããããããeee diz que ela não morreu!!
- Calma filho, é um filme!
Não demorou muito para a lanterninha aparecer e pedir pra minha mãe me tirar da sala, porque eu estava atrapalhando a sessão. Irada ela praticamente me arrancou da cadeira, falou pra minha irmã, que não tinha derramado uma lágrima, não levantar da cadeira e me arrastou pro saguão:
- Buáááááááááá!! A mãe do Bambi morreeeeu!
- Filho fica quieto! Eles não vão deixar você voltar para o cinema!
- Eu não quero voltar, a mãe do Bambi moreu!! Buáááááááááá!!
Até que num momento de iluminação, quase me sacudindo de tanta vergonha, minha mãe falou:
- Ela não morreu filho, ela já volta. Vão descobrir que ela só estava sumida, e daqui a pouco ela aparece de novo.
- Ela não morreu? Snif.
- Não. Agora fica tranquilo, respira fundo pra gente ver o filme.
Dois copos d'água e uma lavada de rosto depois, nós voltamos para as cadeiras e eu até consegui curtir um pouco do que restou do Bambi. Quando acabou o filme e a mãe do Bambi não apareceu, tive que perguntar de novo com um nó na garganta:
- E a mãe do Bambi, mãe? Ela morreu mesmo?
- Ah filho, quando a gente saiu da sala, ela voltou, explicou que era tudo mentira e disse que não tinha morrido. A gente perdeu essa cena.
Demorei anos pra descobrir que a mãe do Bambi tinha morrido de verdade e até hoje ainda sofro da "Síndrome do Bambi", que entre outras coisas causa vexames sérios em salas de cinema.
13 comments:
Xu, meu pai, que não é gente, me levou pra ver Dumbo umas seis ou sete vezes.
Em todas as vezes, na cena em que a mãe do Dumbo está presa e fica embalando o Dumbo com a tromba, pela janelinha da jaula, ele começava:
- coitadinho do Dumbo... a mãe presa pra sempre, enjaulada, e ele ali, largado no mundo, com fome com frio, sem ninguém...
Só pelo prazer de me ver desfeita em lágrimas.
Portanto, se fosse o meu pai contigo, ante a pergunta "a mãe do Bambi morreu????" ele certamente responderia:
- Morreu, sim, e os caçadores arrancaram a pele dela ainda viva, tadinha, e o Bambi tava escondido atrás da pedra e viu tudo!
Acredita que eu sobrevivi quase sem seqüelas??? Quase...
Eu me lenbro de você chorando num trailler... acho que foi o seu record.
Zagaia, eu nem lhe conheço, mas vc não sabe o grande favor que me fez hoje, neste triste domingo, do fim de semana em que terminei um namoro de 5 anos 'perfeito' com um homem maravilhoso que, depois eu descobri, não foi tão maravilhoso assim...Seja como for, só vc pra me fazer rir com essa sua síndrome do Bambi! Ainda mais eu, cinéfila de carteirinha!...Vou espalhar por email pras minhas amigas darem uma visitada no seu flog...E, de novo obrigada por fazer meu 'domingo triste' menos triste!
Ceiça!!! Que infância horrivel... E em PApai Noel te deixaram acreditar?
Leo, eu já tive records bem maiores... acho que o negócio piora com o tempo!
Lia, conhecendo ou não conhecendo fico feliz em ter feito seu domingo melhor... dê u,a sapiada aí pelo blog, tem algumas coisas que podem te fazer rir ainda mais!! Obrigado pela visita e volte sempre!
bjos
Zagaia
É... ainda bem que não sou só eu que choro em filmes, teoricamente infatis.
Já chorei num dos Trapalhões (A filha dos Trapalhões, se eu não me engano), minha família morrendo de vergonha, o cinema inteiro olhando para a minha cara e eu chorando nos 2 primeiros minutos do filme porque a filha foi separada da mãe logo no começo.
Realmente é intrigante, como fazem um filme desses e acham que a gente vai escapar ileso.
Ai que dó!!! Sua mãe sabe que isso te traumatizou?
Tenho várias histórias de vexame no cinema... que rendem um post. Mas pra já registrar aqui eu passei mal em ET. Até hj aquelas cenas dele doente me doem o coração...
Não sei qual é mais deprimente. Se é Dumbo ou se é Bambi... meu filho se mata de chorar com os dois. e olha que ele já viu umas 720 vezes, em vídeo.
De qualquer modo, adorei o texto, dear!
JU...
Zagaia
cheguei a uma conclusão: "Ser mãe (é mesmo!)padecer no paraíso!"
bjos
Zagaia,
Acho que esta história resume vc... um hiperbólico compulsivo, está no sangue isso... hahahhaha
História inesquecivel!!! Amei...
bjs
Rê
Rê, trapalhões eu tb já chorei! Se bobear nesse filme mesmo!
Mc, no ET eu dei um baita VPP!
Ju, linda, brigado! Vindo de vc é sempre ótimo ouvir isso!
Isa, a minha mãe com certeza concorda com vc!
Rê, HIPERBÓLICO com orgulho!! Vou formar uma comunidade no orkut! hehe
Brigado meninas
vê no Estadão de hoje (15/dez) o que o Veríssimo escreveu sobre isso! Lembrei de vc na hora. bj
Mc... eu ví! O Leo tb me avisou! O que me preocupa não é o Verissimo estar lendo o blog (o que seria muito legal) mas sim o fato de eu ser "uma das pessoas que foram marcadas pelo Bambi".
Bjo
Hahaha!! Que ótimo, me lembrei da minha infância, em que ouvíamos a coleção da Disney em vinil e um dia, por acaso assistindo TV vi no Mario Lago o Lobo Mau da estória do Chapéuzinho (era ele quem fazia a voz do Lobo). Dei o maior trabalho pra minha mãe me explicar como aquilo era possível...rs...
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