Tuesday, May 09, 2006

NÃO É VOCÊ

Já era tarde, e se fez silêncio na mesa do Rocket's. Um daqueles silêncios, que duram mais que o aceitável, que se tornam grandes demais pra poder suportar. Foi então, que depois de muito ensaiada, veio a pergunta:
- Gé?
- Hum?
- Posso te perguntar uma coisa?
- Fala.
Se fez outro silêncio grande. Não foi proposital dessa vez, foi só pra respirar. Foi pra olhar pra frente vendo pela última vez, as coisas como eram até aquele momento.
- Por que você me convidou pra ir à Ópera com você hoje?
E então ele abriu um sorriso, e tomou um gole da limonada rosa:
- Você não me entende, é isso?
- Não, nem um pouco.
- Eu não posso mesmo querer que você me entenda, sendo que nem eu me entendo. Falei muito de você na terapia. Muito.
- Você também foi assunto na minha.
- É que quando eu vejo que as coisas estão engrenando, eu fujo. Sempre foi assim. Eu faço isso sem querer. Quando eu vejo a possibilidade de alguma coisa ir adiante, eu arrego.
- Tá. Tudo bem. Essa parte que eu já sei você pode pular. Mas por que você me convidou pra sair com você hoje? Qual é a sua?
Outro sorriso, daqueles desconcertantemente lindos.
- Não sei - disse ele e agora foi ela que sorriu - Não sei mesmo o que eu quero. Eu gosto de estar com você, gosto de dividir as coisas com você, de te levar nos lugares, de ir com você nos lugares que você quer que eu conheça, mas eu também gosto de estar sozinho, de não ter compromisso, de não precisar ligar.
- Mas aí você acaba me deixando confusa. Eu nunca sei o que fazer, como você vai acordar no dia seguinte. Eu não sei se posso contar com você.
- Me desculpa? Eu não queria te deixar assim. E eu também quero que você saiba que não existe outra pessoa, e que você foi a última menina que eu beijei. E que também você não fez nada, pra eu me afastar da última vez, nenhuma atitude, conversa ou atributo seu fez com que eu me afastasse. Eu gosto de estar com você, já disse. Por isso eu voltei a te ligar mesmo achando que você ia me achar um louco.
- E eu achei mesmo.
- Me desculpa?
- Tudo bem. Mas eu precisava dessa conversa. Precisava colocar os pingos nos is. Precisava te falar que eu não te acho normal..
- E eu não sou!
- ...e que eu deixei bem claro o que eu queria com você. E eu ainda preciso saber o que você quer de mim. Pena que nós dois não conseguimos fazer isso. Vamos pedir a conta?
Ela foi embora com a desculpa mais clichê do mundo, a boa e velha "não é você, sou eu", não serviu mais uma vez pra acalmar um coração. Quando ela desceu do carro ele disse que a conversa ainda não tinha acabado, mas ele nem ligou. Ela com certeza nunca mais iria ligar pra ele. E ele certamente iria tentar mais alguma coisa, mas talvez ela não fosse. Tempos depois, talvez eles se reencontrassem, mas aí, seriam outras pessoas,